"Se a sentença de morte for confirmada, passará à fase de execução." |
Os alvos são iranianos que nasceram em famílias muçulmanas, mas se converteram principalmente às denominações evangélicas ou se tornaram católicos carismáticos. O problema, dizem observadores internacionais, estaria na capacidade de converter outros iranianos.
— Não há problemas com armênios ou assírios que vivem no Irã. Eles são cristãos ortodoxos, pregam em sua língua, constroem suas igrejas e têm representantes no Parlamento — explica Drewery Dyle, pesquisador da Anistia Internacional para o Irã, de Londres, por telefone. — Mas os movimentos evangélicos e carismáticos aumentaram nos últimos anos, e fazem pregações em persa.
O pesadelo desse iraniano de 34 anos começou em 2009, quando o governo local determinou que o ensino do Islamismo se tornasse obrigatório nas escolas de Rasht, na província de Gilan. Nadarkhani — que é pastor desde 2001 e fundou uma pequena comunidade chamada de Igreja do Irã — resolveu que os filhos, Joel e Daniel, não assistiriam às aulas. Diante da recusa da direção da escola em liberá-los, o pastor resolveu tirar os meninos da escola. No mesmo dia, o serviço secreto o prendeu.
O Irã tem 71 milhões de habitantes, destes 300 mil são cristãos. A maioria é da comunidade armênia (250 mil), seguidos por assírios (32 mil) — vistos no Irã como "cristãos étnicos". Os demais são, em grande parte, iranianos convertidos nas últimas décadas e que se reúnem em suas próprias casas. E embora a apostasia não faça parte do Código Penal, sua punição é encorajada pela sharia, código de leis baseado no Alcorão. Mas mesmos os clérigos se dividem quanto à questão.
— Esses cristãos convertidos são perseguidos e suas igrejas atacadas. São processados e detidos — conta Hadi Ghaemi, diretor-executivo da Campanha Internacional para Direitos Humanos no Irã, em Nova York. — O número de cristão convertidos presos tem subido a cada ano.
O caso de Nadarkhani levou países como os Estados Unidos, Reino Unido e França a se manifestarem, e tanto Ghaemi quanto Dyke destacaram que o Brasil poderia se ajudar caso se pronunciasse sobre o assunto como quando a iraniana Sakineh Ashtiani, acusada de adultério, foi condenada à morte por apedrejamento.
— O Brasil é tão importante e pode liderar o caminho em muitos assuntos. Deveria se manifestar sobre este caso — disse Drewery Dyke.
O caso tem pulado de tribunal em tribunal nesses dois anos. O pastor chegou a apelar para a Corte Suprema, que decidiu que não haviam lhe dado tempo para se defender. O caso voltou para tribunais locais e duas novas acusações surgiram: estupro e extorsão. Ghaemi, que obteve a cópia do processo, conta que essas acusações nunca haviam surgido antes e seriam manobra, já que a acusação por apostasia não tem base legal.
"Centenas de pessoas foram executadas em prisões sem que suas famílias ou advogados soubessem." |
Nadarkhani corre mesmo o risco de ser executado em segredo. Um relatório da ONU mostra que centenas de pessoas foram executadas em prisões sem que suas famílias ou advogados fossem avisados. As organizações de direitos humanos temem que o tempo esteja se esgotando para Nadarkhani.
Por Cristina Azevedo / O Globo
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