Só neste mês, 107 tunisianos tentaram se matar. |
Mais de um ano depois de um jovem tunisiano ter colocado fogo no próprio corpo e ter provocado revoluções em todo o mundo árabe, o ato de auto-sacrifício, numa potência sistêmica, tornou-se cada vez mais comum em toda a região do mundo árabe.
Na quarta-feira passada, cinco jovens se auto-sacrificaram no Marrocos, somando-se à contagem sombria na Tunísia, Jordânia e Bahrein. "Isto é realmente triste", disse Nabil Dajani, professor de estudos de mídia da Universidade Americana de Beirute. "Os governos são indiferentes. Eles falam sobre democracia quando há uma hierarquia de necessidades que devem ser abordadas em primeiro lugar".
A morte de Mohamed Bouazizi, um vendedor de frutas do sul da Tunísia, em 17 de dezembro de 2010, ajudou a incitar uma revolta que derrubou o governo do presidente Zine el-Abidine Ben Ali.
Os jornais e a televisão árabe têm dedicado pouca cobertura para este ato de auto-sacrifício da população. O aumento desta prática ilustra o quanto as revoltas árabes mudaram as condições de vida que levaram à agitação das massas. Os principais fatores são as condições econômicas, em grande parte, no Norte de África e do Oriente Médio, que são tão difíceis quanto antes, e a piora no Egito e na Líbia.
Neste mês, na Jordânia, um aposentado de 52 anos queimou-se até a morte. No Bahrein, onde os protestos antigovernamentais foram esmagados à força, uma mulher de 59 anos morreu no sábado depois de atear fogo em si mesma no telhado do seu prédio. Há registros de que outras sete pessoas se sacrificaram na Tunísia e Marrocos.
Adil Sbaii, porta-voz do movimento de revolta, disse que cinco homens tinham ameaçado atear fogo no próprio corpo se a polícia não permitisse que manifestantes, do lado de fora de um prédio, trouxessem alimentos e medicamentos a eles. As autoridades, ao que parecem, não levaram as ameaças a sério. "Um dos caras saiu do edifício, derramou gasolina sobre si mesmo e começou a ameaçar o policial, que estava do lado de fora, pedindo para pegar a comida trazida por outros manifestantes. O policial recusou e ele ateou fogo em seu próprio corpo”, disse Sbaii que testemunhou o episódio. Três dos cinco homens foram hospitalizados, dois em estado grave. Em um vídeo surpreendente, postado no YouTube, um homem coberto de chamas é visto correndo em meio a uma multidão de manifestantes e policiais.
A taxa de desemprego oficial de Marrocos é de 9,1% a nível nacional. A economia cresceu nos últimos anos, mas ainda é incapaz de gerar empregos para muitos. Um novo governo do Marrocos, dominado por islamitas, foi eleito no ano passado. Eles anunciaram um novo plano econômico na última quinta-feira. O plano prevê que o setor privado gere novos empregos para os milhões que estão desempregados, em vez de oferecer cargos no governo, como muitos dizem que querem. O Marrocos é uma monarquia constitucional: "Estamos pedindo ao governo para abrir um diálogo com essas pessoas e não levá-los ao desespero", disse Samira Kinani, da Associação Marroquina de Direitos Humanos. "Se houvesse transparência, os desempregados não iriam reagir de maneiras tão extremas".
A rede de noticias BBC informou que só neste mês 107 tunisianos tentaram se matar nos primeiros seis meses após a morte do Sr. Bouazizi: "As condições de vida de muitos tornaram-se miseráveis", disse Jihad al-Khazen, colunista do jornal árabe Al-Hayat. "Isso é o resultado do desespero e um sentimento entre muitos no mundo árabe em que suas próprias vidas perderam o seu valor".
Fonte: Rua Judaica
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