Israel precisa de partidos que ostentam clara identidade política, que apresentem políticas claras. |
Exceto para o ultraortodoxo partido Shas, as declarações de Lapid foram avaliadas como equilibradas pelos representantes dos diferentes partidos políticos. O membro do Parlamento (Knesset) que representa o Shas, Nissim Zeev, referiu-se a Lapid como um “monstro que é abastecido pelo ódio ao judaísmo”. O Ministro dos Cultos Religiosos, também filiado ao Shas, disse com fervor: “Quem precisa de Lapid? Nós já temos Lieberman. Ambos são a mesma coisa”.
Na esquerda da política israelense, a nova líder do Partido Trabalhista, Shelly Yachimovich, deu boas vindas ao ingresso de Lapid na política, mas destacou que ele representa “valores sociais que estão em completa oposição àqueles valores defendidos pelo Partido Trabalhista”. A resposta lacônica do Primeiro-Ministro Netanyahu foi: “Bem-vindo à política”.
Além de Lapid, uma figura bem conhecida também anunciou seu ingresso na política essa semana. Noam Shalit, pai do recém-liberto soldado israelense Gilad Shalit, vai representar o Partido Trabalhista nas próximas eleições. Ele faz parte do Partido há mais de uma década, mas seu anúncio gerou várias críticas. Há um sentimento de que ele está se utilizando da fama e da simpatia que ele conquistou lutando pela libertação de seu filho, uma questão que uniu o povo de Israel, para supostamente seus mesquinhos propósitos políticos.
Finalmente, o ex-líder do Partido Shas, Aryeh Deri, talvez volte à política. Deri possui muitos seguidores dentre os ultraortodoxos, mas ele não tem boas relações com o atual líder do partido, Eli Yishai. Deri busca a aprovação do seu mentor espiritual, o Rabino Ovadia Yosef, só que o problema é que Yosef também é o mentor espiritual de Yishai, que é o líder do Partido Shas. A partir disso, ninguém sabe se, ou como, o carismático Deri vai se juntar à disputa.
Comentário
Não é apenas o panorama político que está movimentado no momento; a sociedade israelense também está atravessando um período de muita agitação interna. Um é, obviamente, influenciado pelo outro. Houve recentemente muita tensão e até mesmo violência direta de judeus ultraortodoxos, os quais forçam as pessoas ditas seculares a cumprirem as regras de comportamento deles, especialmente no que se refere à divisão de sexos e às regras de humildade.
Existe a tensão entre assentados (colonos) e esquerdistas, e essa tensão foi recentemente intensificada por extremistas inseridos dentre os assentados, que promoveram atos violentos contra árabes e contra o exército israelense. Há também um aumento do ódio contra judeus etíopes em algumas cidades, havendo discriminação no que se refere ao fato de eles terem empregos e moradia. Há também os protestos sociais direcionados ao aumento da preocupante distância econômica entre pessoas ricas e pessoas pobres. Mesmo que os protestos não sejam mais vistos nas ruas, trata-se de um motivo para preocupação e uma fonte de tensão.
E além de tudo isso que foi citado acima, existe ainda a rivalidade entre os partidos políticos no que diz respeito ao processo de paz e à maneira de lidar com os efeitos da então chamada “Primavera Árabe”.
Consequentemente, Israel necessita que todos aqueles que se importem o bastante que venham a se empenhar e resolver esses, dentre vários outros desafios. Contudo, é muito importante que o ingresso dessas novas pessoas não leve o parlamento a um processo ainda maior de fragmentação (mais do que já está fragmentado) e, com isso, deixe o governo com menos efetividade. Brotam rumores de que nem Lapid nem Deri vão se juntar a algum partido pré-existente; ao contrário, eles vão fundar novos partidos. Várias pesquisas de opinião já foram promovidas e, hipoteticamente, foram incluídos esses dois supostos partidos. Os resultados variam muito, mas o partido de Lapid apareceu como vencedor de 7 a 20 mandatos, enquanto que Deri ostenta menos que 10 mandatos com seu partido. O grande perdedor dessa história é o Partido Kadima, que na pior das hipóteses fica com 9 mandatos. Já o grande vencedor em todas as pesquisas é o Partido Likud, que é o partido de Netanyahu, que fica com 30 a 42 mandatos.
Contudo, o Parlamento Israelense – o Knesset – possui 120 cadeiras, e atualmente conta com 13 partidos políticos. Isso concede aos partidos menores uma influência desproporcional aos seus respectivos tamanhos e geralmente leva a situações nos quais interesses simplesmente partidários tornam-se os determinantes nos rumos das políticas referentes aos assuntos mais essenciais. No final, tudo isso acaba por deixar o governo parcialmente paralisado, sem nenhuma estratégia específica, graças ao necessário comprometimento com os partidos menores. Consequentemente, Israel não precisa de mais partidos; Israel precisa de partidos que ostentem clara identidade política, que apresentem políticas claras. Lapid e Deri possuem identidades claras e carismáticas – mas são os seus respectivos pontos de vista políticos é que deveriam ser julgados, e não as suas personalidades.
A campanha publicitária em torno dos ingressos de Lapid, Shalit e Deri na política levou a especulações sobre novas eleições. Como sempre, há vários fatores que podem levar a eleições mais cedo, mas como está a situação hoje, há pouquíssimo para justificar tais especulações. A questão mais explosiva para o governo de Netanyahu talvez seja a divisão secular-religiosa que também ocorre dentro de seu governo. Porém, no momento, Netanyahu está sentado, tranquilo e confortável.
Fonte: Word of Life Israel
Fonte: Word of Life Israel
0 comentário(s):
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário.