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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Primavera Árabe, jovens, liberdade e tecnologia

O Comitê de Direitos Humanos da ONU afirmou que os
blogueiros têm as mesmas proteções que os jornalistas.
Com telefones celulares e computadores, os jovens protagonistas da Primavera Árabe mudaram a forma como o mundo vê as mobilizações populares no Oriente Médio, a liberdade na internet e as redes sociais.

A internet pode ser uma força transformadora de sociedades e pessoas, pois permite uma organização em massa e a livre circulação de informação. Contudo, devemos lembrar que, como as redes sociais, não são as ferramentas que produzem a mudança, embora facilitem a propagação de ideias.

O influente uso dos meios sociais como veículos de mudança nas revoltas populares do Oriente Médio é um exemplo do poder das comunicações por meio da internet e um grande argumento a favor da liberdade. As comunicações por esta via foram utilizadas por jovens ativistas mergulhados no uso de tecnologias no Oriente Médio com três finalidades: organização, exposição e influência.

Os jovens se esforçaram para organizar movimentos políticos e sociais, expor as injustiças de seus governos e a influência sobre atores internos e externos agiu como catalisadora das revoltas populares no Oriente Médio, que, de outro modo, teriam permanecido latentes.

As redes sociais permitem uma comunicação transversal acima das barreiras geopolíticas, culturais e linguísticas. Estas ferramentas permitiram que jovens líderes do Egito, do território palestino da Cisjordânia, da Jordânia e de outros lugares se organizassem criando comunidades de seguidores na internet, fazendo com que as pessoas saíssem às ruas e conseguissem apoio internacional para sua causa.

Como são cada vez mais comuns os dispositivos móveis e os telefones inteligentes, é possível reunir pessoas com um mínimo de antecipação. Este nível de organização é possível pela quase instantânea comunicação e por uma rede de devotos e atentos conhecedores da matéria. Além disso, as organizações podem criar, colaborar e distribuir conteúdo a um - ao que parece - ilimitado público.

A capacidade de jovens ativistas de se organizarem por meio da tecnologia levou a um novo nível a natureza da ação da cidadania e deu voz a narrativas desconhecidas até então. Está na natureza da internet a possibilidade de compartilhar múltiplos discursos em várias plataformas. As comunicações online, incluídos blogs, YouTube e RSS, habilitam a exposição de narrativas não oficiais e não governamentais e seu consumo maciço.

Ao diminuírem dia a dia as barreiras de acesso à internet, cada vez mais pessoas podem participar e se expressar por esse meio. Porém, a ideia de que todos possam compartilhar sua opinião rapidamente se tornou polêmica. O jornalismo cidadão e os blogs denunciaram atrocidades cometidas por regimes que, de outro modo, não viriam a público. Nestes casos, a internet supõe uma ameaça existencial ao poder do governo de controlar o discurso oficial, mas habilita a livre expressão.

Como era de se esperar, os civis são perseguidos pelos regimes por participarem de manifestações, publicar conteúdo de oposição ou divulgar imagens que mostram a violência estatal. Os sites da internet são censurados e atacados e o acesso é limitado. Claro que os meios sociais e as comunicações baseadas na internet são ferramentas que podem ajudar ou prejudicar.

A influência dos jovens é local e internacional. Muito parecido ao modo como a Revolução de Veludo mobilizou jovens de diferentes setores sociais da República Checa contra o governo soviético, os ativistas da Primavera Árabe reuniram gente de todas as idades, religiões e classes sociais sob o mesmo lema.

A denúncia de mau manejo por parte do governo por intermédio do jornalismo cidadão pode ser uma pressão para que a imprensa local e a internacional se concentrem em fatos especialmente importantes. E a influência pode ser maior. Os protestos de 2011 na Praça Tahrir, no Egito, foram uma pressão para que os Estados Unidos revisassem o apoio ao então presidente Hosni Mubarak, que governou esse país de 1981 até renunciar no ano passado.

O Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que as proteções garantidas pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos se aplicam às comunicações por meio da internet. O anúncio confirma que os blogueiros têm as mesmas proteções que os jornalistas.

Além disso, o relator da ONU, o guatemalteco Frank La Rue, divulgou um informe afirmando que a internet se tornou uma forma importante pela qual as pessoas podem exercer seu direito à liberdade de opinião e de expressão. Negar este direito é uma violação do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.

A ideia de livre acesso à internet como direito humano está muito longe da realidade, mas seu uso por uma geração de ativistas do Oriente Médio que domina a tecnologia colocou as comunicações por meio das redes sociais no centro do debate sobre liberdade, democracia e mudança.

Megan Martin
Especialista em identidade étnica e em política externa dos Estados Unidos na Europa oriental, no Oriente Médio e no Norte da África. Tem mestrado em política pela Universidade de Nova York.

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