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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Não Ignore a Fraude Eleitoral no Egito

Mohamed ElBaradei abandonou a disputa presidencial
reclamando da dimensão da fraudulência.
Quando a Câmara Baixa do Egito foi convocada em 23 de janeiro, os islamistas tinham assegurado 360 das 498 cadeiras, ou seja, 72%. Entretanto, esse número espantoso reflete menos a opinião pública do país e mais o estratagema da liderança militar governante para permanecer no poder.

No recente artigo Eleições Fraudadas no Egito, sustentamos que, assim como no passado Anwar El-Sadat e Hosni Mubarak "conferiram poderes, taticamente, aos islamistas, como manobra para obter apoio do Ocidente, armas e dinheiro", Mohamed Tantawi e o Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF) "ainda apostam nesse antigo jogo, já desgastado".

Apresentamos três provas para essa afirmação: (1) fraudes eleitorais locais; (2) oferecimento por parte do SCAF de um "acordo" aos islamistas; e (3) contribuição com subsídios aos partidos políticos islamistas pelos militares. Após sete semanas, vários sinais apontam para fraudes em uma escala muito maior.

O Partido dos Egípcios Livres, o mais importante partido político liberal tradicional do Egito, anunciou em 10 de janeiro ter apresentado mais de 500 denúncias sobre as eleições da Câmara Baixa, "mas não foi tomada nenhuma ação legal" a respeito. O partido decidiu abandonar as próximas eleições da Câmara Alta pelo fato de que os "transgressores obtêm ganhos eleitorais enquanto aqueles que respeitam as leis são punidos", reivindicando o seu cancelamento.

Mohamed ElBaradei, ex-diretor geral da Organização Internacional de Energia Atômica (OIEA), retirou sua candidatura à presidência em 14 de janeiro por conta da sua percepção de fraude nas eleições: "Minha consciência," proclamou ele, "não me permite concorrer à presidência ou a qualquer outro cargo público a não ser que seja no contexto de um verdadeiro sistema democrático".

Seis candidatos ao parlamento fizeram denúncias formais contra uma série de autoridades e exigiram que as eleições fossem anuladas e realizadas novamente, segundo relatos do jornal El-Badil em sua edição de 10 de janeiro. Um dos candidatos do Partido Wafd, identificado como Ibrahim Kamel, expôs como adquiriu documentos do governo, indicando que menos de 40 milhões de egípcios estavam aptos a votar, ao passo que 52 milhões de eleitores votaram nas eleições, mostrando a existência de 12 milhões de votos fraudulentos. Segundo ele, esse incremento foi alcançado tomando os nomes e números de identificação de eleitores legítimos, duplicando-os entre 2 e 32 vezes em outras zonas eleitorais.

Mamdouh Hamza, chefe da ONG Conselho Nacional Egípcio, confirmou essa fraude ao El-Badil, denominando-a "o maior crime de fraude da história egípcia". Ele exigiu que as eleições da Câmara Baixa fossem realizadas novamente, desde o início.

Tal'at Zahran, trajando vestimentas árabes
(não egípcias), indicando sua orientação salafista.
Em contrapartida, os vitoriosos islamistas, que menosprezam a democracia, não se deram o trabalho de ocultar seu sucesso eleitoral por meio de fraude. Alguns chegaram até a assegurar orgulhosamente e, sem nenhum constrangimento, que é o dever islâmico serem desonestos. Tal'at Zahran, importante salafista, chamou o sistema democrático de "infiel," "criminoso" e "oriundo dos Sábios de Sião". Ele frisou cinicamente que "é nosso dever falsificar eleições, Deus irá nos recompensar por isso".

Reveladoramente, Zahran também teceu elogios a Tantawi: "Da mesma forma que demos a Mubarak o bay'a [juramento islâmico de lealdade], agora apoiamos o SCAF. Se Tantawi decidir continuar no poder, daremos apoio a ele até o final de seus dias". Relatos indicam que os islamistas e os militares estão trabalhando harmoniosamente juntos em questões chave como a autonomia das forças armadas e emendas na constituição de 1971. Sua cooperação faz sentido, dado que os islamistas buscam a unidade muçulmana para que possam pôr em foco sua total atenção no inimigo infiel (principalmente judeus e cristãos).

Com tanta evidência de fraude à disposição, ficamos desnorteados ao ver políticos ocidentais, jornalistas e estudiosos continuarem a encarar os resultados fajutos das eleições egípcias, que acabaram de ser concluídas, como uma manifestação válida da vontade popular. Onde estão os jornalistas cínicos para lançarem dúvidas sobre os salafistas vindos do nada para obterem 28% dos votos? Por qual motivo analistas duros e astutos, que veem com clareza fraudes nas eleições na Rússia e na Síria, caem no "maior crime de fraude da história egípcia"? Quem sabe estejam dando um tempo ao Cairo, por conta da sua colaboração com as potências ocidentais por cerca de 40 anos, ou talvez porque Tantawi engane de forma mais convincente.

Dado o desdém explícito do SCAF frente ao resultado das eleições, estamos também surpresos com a esperança dos analistas de que elas pesem de forma significativa sobre o futuro do país. Na realidade, o SCAF manipulou as recentes eleições em benefício próprio, os islamistas são peões nesse drama, não reis. Estamos testemunhando não uma revolução ideológica e sim um corpo de oficiais militares continuando no controle, para desfrutar os doces frutos da tirania.

O Sr. Pipes é o presidente do Middle East Forum e membro Taube da Hoover Institution. A Srta. Farahat é uma ativista egípcia e coautora de um livro sobre as manifestações de protesto da Praça Tahrir.

Por Daniel Pipes e Cynthia Farahat / National Review Online

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