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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Turquia Está se Tornando um Estado Pária?

Recep Tayyip Erdoğan comprou as eleições de junho
de 2011 através da injeção de crédito na economia turca.
Em um Oriente Médio atormentado por coups d'état e insurreições civis, a credibilidade da República da Turquia se apresenta como um modelo graças ao seu impressionante crescimento econômico, sistema democrático, controle político sobre os militares e ordem secular.

Na realidade porém, a Turquia talvez seja, juntamente com o Irã, o estado mais perigoso da região. Veja por que:

Islamistas sem freios: quando quatro dos cinco Chefes do Estado-Maior pediram demissão em 29 de julho de 2011, eles sinalizaram o fim efetivo da república fundada em 1923 por Kemal Atatürk. A segunda república chefiada pelo primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan e seus colegas islamistas do Partido AK começou naquele dia. Com os militares de fato sob seu controle, os ideólogos do AKP puderam colocar em prática suas ambições de criar uma ordem islâmica.

Uma oposição ainda pior: ironicamente, os turcos seculares tendem a ser mais antiocidentais do que o AKP. Os dois outros partidos no parlamento, o CHP e o MHP, condenam a política mais evoluída do AKP, assim como a sua abordagem em relação a Síria e a instalação de um sistema de radar da OTAN.

Iminente colapso econômico: a Turquia enfrenta uma contração de crédito, amplamente ignorado diante das crises na Grécia e em outros lugares. Conforme aponta o analista David Goldman, Erdoğan e o AKP assumiram o país em meio a uma farra financeira: inchamento do crédito bancário à medida em que o déficit em conta corrente vem aumentando, atingindo níveis insustentáveis. A máquina de suporte do partido emprestou enormes quantias de dívida de curto prazo para financiar a bolha de consumo que efetivamente comprou as eleições de junho de 2011. Goldman chama Erdoğan de "Homem Forte do Terceiro Mundo" e compara a Turquia de hoje com o México de 1994 ou com a Argentina de 2000, "onde uma breve expansão da economia financiada pelo fluxo de capital estrangeiro de curto prazo, levou à desvalorização da moeda e à profunda recessão econômica".

Escalada dos problemas curdos: entre 15% e 20% dos cidadãos turcos identificam-se como curdos, um povo histórico distinto, embora muitos curdos estejam integrados, uma revolta separatista curda contra Ancara que começou em 1984 atingiu recentemente uma nova intensificação progressiva com uma liderança política mais assertiva e ataques de guerrilha mais agressivos.

O envio do Mavi Marmara a Gaza equipara-se a uma
provocação internacional.
À procura de um confronto com Israel: na tradição de Gamal Abdel Nasser e de Saddam Hussein, o primeiro-ministro turco usa de retórica antissionista para se fazer de estrela política árabe. É de estremecer só em pensar onde, eletrizado por essa adulação, ele irá chegar. Após Ancara apoiar a embarcação de protesto Mavi Mármara rumo a Gaza em maio de 2010, cuja agressão levou as forças israelenses a matar oito cidadãos turcos além de um manifestante de etnia turca, valeu-se impiedosamente desse incidente para atiçar a fúria nacional contra o estado judeu. Erdoğan classificou as mortes de casus belli, fala de guerra contra Israel "se necessário" e planeja enviar outra embarcação a Gaza, desta vez com uma escolta militar turca.

Simulação de uma facção antiturca: a hostilidade turca renovou as relações historicamente cordiais com os curdos, reativando as inexpressivas relações com a Grécia, Chipre e até com a Armênia. Além da cooperação em termos locais, este agrupamento irá tornar a vida mais difícil para os turcos em Washington.

O campo de gás Leviatã é o maior dos vários campos
descobertos recentemente entre Chipre e Israel.
Assegurando os direitos sobre as reservas de energia no Mediterrâneo: companhias que operam a partir de Israel, descobriram reservas de gás e petróleo potencialmente imensas nos campos de Leviatã além de outros entre Israel, Líbano e Chipre. Assim que o governo de Chipre anunciou seus planos para a prospecção, Erdoğan reagiu com ameaças de enviar "fragatas, canhoneiras e... a força aérea" turca". Essa disputa, que está apenas no seu início, contém os elementos potenciais de uma enorme crise. Agora mesmo, Moscou já enviou submarinos em solidariedade a Chipre.

Outros problemas internacionais: Ancara ameaça congelar as relações com a União Européia em julho de 2012, quando Chipre assumirá a presidência rotativa. As forças turcas capturaram uma embarcação Síria com armamentos. Ameaças turcas de invadir o norte do Iraque agravaram as relações com Bagdá. Os regimes turcos e iranianos podem até compartilhar o mesmo enfoque além de uma agenda anticurda, com a progressão de relações comerciais, porém a sua rivalidade histórica, estilos de governo opostos, ambições conflitantes deterioraram as relações.

Enquanto o Ministro das Relações Exteriores Ahmet Davutoğlu cacareja que a Turquia está "bem no centro de tudo", a belicosidade do AKP deteriorou sua louvada política de "problemas zero" com os vizinhos, transformando-a em uma hostilidade de amplo alcance e até em confrontos militares em potencial (com a Síria, Chipre e Israel). Conforme os problemas econômicos forem chegando, o membro exemplar de outrora da OTAN poderá sair ainda mais dos trilhos, atente para os sinais de Erdoğan emulando seu companheiro venezuelano, Hugo Chávez.

Está é a razão pela qual, juntamente com as armas nucleares iranianas, vejo uma Turquia pária, a maior ameaça à região.

Fonte: Daniel Pipes, National Review Online

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