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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Qual o papel do governo do Irã no plano para matar embaixador da Arábia Saudita nos EUA?


Desenho mostra a audiência preliminar em que Manssor Arbabsiar ouve as acusações de que estaria conspirando para matar o embaixador da Arábia Saudita nos EUA

Horas depois do anúncio de que os Estados Unidos descobriram um plano iraniano para matar o embaixador da Arábia Saudita nos EUA, Adel al-Jubeir, há muito mais perguntas a serem feitas do que respostas sobre o caso.

A questão central é descobrir até que ponto o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, sabiam do plano. De acordo com o blog Security Clearence, da CNN, dedicado a estudar questões de segurança, os EUA não têm “informação específica” ligando Khamenei ao caso, mas teriam informações indicando que líderes da Força Quds, divisão de elite da Guarda Revolucionária do Irã, sabiam do plano.

Um alto funcionário do governo disse a Elise Labott da CNN que, dada a compartimentalização da liderança do Irã, não está claro até que ponto o plano era conhecido – ou tinha a aprovação – dentro do governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad. “Poderia ser alguém de dentro da Guarda Revolucionária trabalhando de forma independente; poderia ser alguém da Quds achando que tinha recursos e meios para conduzir algo”, disse. “Ainda não está claro”.

A CNN e o jornal The Washington Post citam o representante Mike Rogers, presidente do comitê de Inteligência da Câmara de Representantes americana, segundo quem “uma pessoa razoável pode concluir que o governo civil tinha que saber”. Mas outra fonte ouvida pelo jornal, o ex-analista da CIA Robert Baer, autor de vários livros sobre o Irã, tem opinião diferente. A precipitação dos conspiradores – que falaram sobre o plano pelo telefone, enviaram dinheiro aos Estados Unidos e entraram em contato com o que pensavam ser um cartel de drogas mexicano – “levanta dúvidas sobre se os normalmente cautelosos clérigos iranianos apoiaram ou mesmo sabiam do plano”.

Robert Baer diz que “o desleixo sobre o plano desafia a convicção [de que os líderes do Irã sabiam]. “Talvez as coisas estejam confusas em Teerã, ou talvez haja um grupo radical queira agitar as coisas”, disse Baer. “Mas a Quds é melhor do que isso. Se eles quisessem ir atrás de vocês, você já estaria morto”.

Há discordâncias também sobre qual interesse teria o Irã em matar o embaixador saudita nos EUA. Na The Atlantic, o analista Max Fisher lembra que o Irã tem um longo e conhecido histórico de patrocinar atos terroristas no exterior, mas que não teria sentido tentar matar o embaixador saudita em Washington, uma vez que isso fortaleceria as relações entre EUA e Arábia Saudita, a principal inimiga regional do Irã.

O Irã nunca teve vergonha de patrocinar o terrorismo, mas apenas quando [o ataque] estava dentro de seus interesses, ou pelo menos de supostos interesses. É difícil ver como eles poderiam ter decidido realizar um plano como o que [o procurador-geral dos EUA, Eric] Holder anunciou”.

No mesmo site, Steve Clemons rebate os argumentos, lembra que as relações entre americanos e sauditas estão estremecidas e que o Irã estaria percebendo, de forma errada, que os EUA estão enfraquecidos e “poderiam ser duramente atingidos agora”.

Uma combinação da suposta fraqueza americana combinada com a vontade de tirar os sauditas do equilíbrio pode ter sido suficiente para justificar o ataque, que eu concordo é altamente incomum.

Por José Antonio Lima / Época
Foto: Elizabeth Williams / AP

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