Páginas

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A tentativa de atalho da Palestina

"E um acordo de paz significa, fatalmente, que existirão
sacrifícios dolorosos para ambos os lados."
Um acordo de paz significa, fatalmente, que existirão sacrifícios dolorosos para ambos os lados. O que Abbas tenta fazer é “ganhar no tapetão” como se diz por aqui

A resolução da ONU de 27 de novembro de 1947, que promoveu a Partilha da Palestina, levou à criação de dois Estados, um para os judeus e outro para os árabes. A verdade histórica atesta que Estado de Israel não “foi imediatamente constituído”, uma vez que tal fato só ocorreu quase seis meses após, em 14 de maio de 1948. Por outro lado, não se pode afirmar que o Estado palestino, 63 anos depois, ainda não saiu do papel.

Esse é verdadeiro cerne da questão que originou o conflito e que muita gente desconhece. Se o Estado palestino tivesse sido constituído como a ONU determinou, provavelmente o conflito do Oriente Médio não existiria hoje. Desde os debates em 1947 os árabes vinham ameaçando invadir Israel quando ele se tornasse independente, dizendo abertamente seu objetivo de jogarem os judeus no mar. Com a independência declarada por Ben Gurion, cinco exércitos de países árabes invadiram o país em seu primeiro dia de vida, iniciando a guerra de 1948 e que um ano mais tarde terminou com a vitória israelense.

Em 1956 e em 1967, assim como em 1973, os mesmos países tentaram de novo destruir Israel e foram vencidos. As guerras mostraram que se Israel não modificasse o mapa os conflitos se agravariam cada vez mais e por isso o país se expandiu sobre os territórios árabes. Após ter conquistado Gaza, Cisjordânia e Golã, Israel procurou fazer as pazes com seus vizinhos ofertando-lhes essas áreas em troca. Os países árabes reunidos em Karthum, no Sudão, decidiram por uma declaração que ficou conhecida como a dos “Três Não”: Não ao reconhecimento de Israel; não à negociação com Israel; e não à paz com Israel. Na década de 70, em acordos separados com o Egito e a Jordânia, com a ajuda dos Estados Unidos foram assinados tratados de paz. O Egito recebeu de volta a península de Sinai, mas recusou Gaza, e a Jordânia, que ocupava anteriormente a Cisjordânia, também não a quis de volta.

Equivoca-se quem diz que são territórios ocupados. Na realidade são territórios em disputa. Só pode haver ocupação de um território se esse for tomado de um país e, ao que consta, a Palestina como Estado nunca existiu antes. A Cisjordânia foi tomada da Jordânia [por isso chama-se Cisjordânia] que a ocupava, e Gaza era ocupada pelo Egito. Por sua vez, a Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, que estabeleceu a paz ao final da guerra de 1967, é bem clara quando afirma que Israel, dependendo de acordos bilaterais com as partes envolvidas, poderá fazer a devolução de territórios, mas não dos territórios. Isso significa que não devolveria todos os territórios, mas sim parte deles o que já foi feito em decorrência dos Acordos de Oslo, justamente para criar o território da Autoridade Palestina.

Quanto à Autoridade Palestina ir à ONU, é interessante destacar o que o presidente Obama, dos EUA, disse na abertura da Assembleia da ONU, logo após o discurso da presidente Dilma Rousseff. Disse ele: “Nessa questão não pode haver atalhos e israelenses e palestinos devem negociar entre si”. Israel já anunciou reconhecer e deseja viver ao lado de um país palestino, mas isso só pode vir através de um acordo.

E um acordo de paz significa, fatalmente, que existirão sacrifícios dolorosos para ambos os lados. O que Abbas tenta fazer é “ganhar no tapetão” como se diz por aqui. Recorrendo à ONU pretende esquivar-se dessas renúncias, como por exemplo, eliminar o terrorismo, inclusive do Hamas, abolir o ensino do ódio aos judeus nas escolas e nas pregações religiosas, acabar com incitação e reconhecer Israel como Estado judeu.

Por Manoel Knopfholz, Gazeta do Povo

0 comentário(s):

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário.