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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

EUA, França e outros países abandonam Assembleia da ONU durante discurso polêmico de Ahmadinejad

"descambou para a repugnante difamação antissemita
e as desprezíveis teorias conspiratórias"
Com afirmações polêmicas sobre o 11 de Setembro e o Holocausto, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, levou nesta quinta-feira várias delegações diplomáticas, como as de Estados Unidos, França e Israel, a abandonar suas cadeiras na Assembleia Geral da ONU.

No discurso, Ahmadinejad se referiu aos "misteriosos" ataques do 11 de Setembro com um pretexto para as guerras em Afeganistão e Iraque e disse que as "arrogantes potências ocidentais" ameaçam qualquer um que questione os atentados e o Holocausto.

"Usando a mídia imperialista, que está sob influência do colonialismo, eles ameaçam qualquer um que questione os eventos do Holocausto e do 11 de Setembro com sanções e ações militares", afirmou.

O presidente iraniano atacou ainda os EUA pelo "histórico de escravidão", que segundo ele causou duas guerras mundiais e acabou no uso de uma bomba atômica contra "pessoas indefesas", e condenou o apoio americano a "regimes totalitários de Ásia, África e América Latina".

"Ahmadinejad teve a chance de falar sobre as aspirações por liberdade e dignidade de seu próprio povo, mas novamente descambou para a repugnante difamação antissemita e as desprezíveis teorias conspiratórias", disse Mark Kornblau, porta-voz da missão americana na ONU.

Logo em seguida, foi a vez do primeiro-ministro David Cameron discursar. O britânico defendeu que a ONU adote ações contra regimes opressivos, afirmando que a Primavera Árabe e o conflito na Líbia mostraram que a organização precisa de um "novo modo de operação".

"A ONU precisa mostrar que não estamos apenas undios na condenação, mas unidos na ação, atuando de uma forma que faça jus aos princípios fundamentais da ONU e às necessidades das populações", afirmou Cameron no seu primeiro discurso na assembleia. "Você pode assinar todas as declarações de direitos humanos no mundo, mas se ficar parado e observar as pessoas serem massacradas em seu país, quando você pdoeria atuar, então de que valhem estas assinaturas?"

O premier disse ainda que os palestinos têm direito a um "Estado viável próprio" e que a comunidade internacional deveria ajudá-los a alcançar isso. Cameron, no entanto, acrescentou que nenhuma resolução será capaz de fornecer a "vontade política" necessária para uma paz duradoura, e pediu que israelenses e palestinos retomem as negociações.

Pressão interna
As palavras de Ahmadineja mais cedo, polêmicas como nas outras seis vezes em que discursou na ONU, não esconderam as dificuldades internas e externas que ele vem enfrentando.

No campo interno, o presidente iraniano enfrenta oposição dentro do próprio regime, além de uma economia cambaleante - em parte devido às sanções internacionais aplicadas contra o governo de Teerã. A libertação na última quarta-feira de dois americanos acusados pelo Irã de atuarem como espiões para os EUA, às vésperas do discurso de Ahmadinejad na ONU, foi apenas um sinal do mal-estar que reina no governo iraniano.

Na semana anterior, a Justiça iraniana havia negado a possibilidade de libertação dos americanos, contradizendo uma declaração de Ahmadinejad. Além da relação complicada com o Judiciário, o presidente vem enfrentando oposição do Legislativo e de cargos burocráticos do governo.

"Ahmadinejad queria levar o crédito pela libertação dos montanhistas, e mostrar-se como um interlocutor relevante e capaz", disse à CNN Vali Nasr, professor de Política Internacional na Universidade de Tufts.
A decisão do presidente, no entanto, irritou os mais conservadores dentro do seu governo. Mas as disputas não são de hoje. Em julho, Abbas Milani, especialista em Irã, escreveu um artigo no "The National Interest" sobre a disputa entre o presidente iraniano e o líder supremo aiatolá Khamanei.

"Ahmadinejad ainda tem dois anos no cargo. Mas, como as coisas estão hoje, dificilmente ele chegará ao fim (do mandato)", escreveu.

Essas divergências foram crescendo após 2009, quando as forças conservadoras do Irã se apresentaram como um grupo coeso diante das manifestações populares que se seguiram às eleições presidenciais. Na ocasião, Khamenei apoiou publicamente Ahmadinejad, enquanto milícias reprimiam os manifestantes anti-regime.

Mas, quando o presidente tentou consolidar sua base no governo, os problemas começaram. Um dos momentos mais críticos foi a queda de um de seus mais próximos aliados, Mohammed Sharif Malekzadeh, em junho, obrigado a deixar o governo após ser envolvido num escândalo financeiro.


Momento delicado também com aliados internacionais
Mas além da resistência interna a Ahmadinejad, a relação do presidente iraniano com alguns países da região também se encontra num momento delicado. Seu principal aliado no mundo árabe, o presidente sírio Bashar al-Assad, vem reprimindo com mão de ferro um levante popular na Síria desde março, provocando inúmeras críticas da comunidade internacional. Além disso, o país tem que lidar com a ascensão de uma nova potência regional, a Turquia.

Mas a Primavera Árabe não trouxe apenas más notícias ao Irã. O conselho militar que governa o Egito desde a queda de Hosni Mubarak é bem menos hostil a Teerã, ao mesmo tempo em que mantém uma relação menos amigável a Israel do que o governo predecessor.

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