A matéria publicada pela Zero Hora na sexta-feira (19), "Hamas revoga trégua de dois anos com Israel após novo confronto", necessita ser dissecada para análise. Além de contar com um grande público de leitores, a notícia não faz parte de um editorial ou de uma seção opinativa para apresentar, com tamanha tendenciosidade, a sua posição no conflito árabe-israelense. Continuemos.
Parágrafo inicial:
"O braço militar do Hamas anunciou que não está mais comprometido com o cessar-fogo com Israel, em vigor há mais de dois anos, informou o site da rede Al Jazeera. Um novo ciclo de confrontação foi iniciado nesta sexta-feira entre Israel e a Faixa de Gaza com bombardeios contra ativistas palestinos e o lançamento de foguetes ao sul do território israelense, um dia depois do triplo atentado em Eilat."
Ao iniciar a matéria, parece-nos que o Hamas está fazendo uma declaração oficial, pesarosa, de que o cessar-fogo com Israel não poderá fazer mais parte de seu vocabulário. Afinal de contas, quando isso foi realidade? A facção extremista acaba de oficializar o que não respeitava no acordo com Israel.
"Bombardeios contra ativistas palestinos e o lançamento de foguetes ao sul do território israelense." Consegue imaginar a cena? O Estado de Israel atuando militarmente contra simples ativistas palestinos - no mesmo nível que Bashar Al-Assad age com violência contra ativistas sírios. A expressão suavizante para "Terroristas" não é mera coincidência.
A foto ao lado, também publicada com a matéria, tem a seguinte descrição: "A mãe de um militante chora após reconhecer o corpo do filho morto em um ataque aéreo, no hospital da cidade de Deir Al Balah, região central da Faixa de Gaza". A dúvida que fica no ar é a seguinte: o que seria um "militante" na concepção do(s) editor(es)?
A intenção não é tornar ilegítimo o clamor desta mãe, mas se o caráter "militante" de seu filho incluía a sua participação no lançamento maciço de foguetes a Israel e o apoio às bases que interviram no triplo atentado realizado na quinta-feira, a suavização do termo é totalmente inadequada. Não podemos esquecer que o público Zero Hora, originalmente, é brasileiro. O termo "militante" pode ser, de certa forma, bem relacionado ao de militância política, onde os "ativistas" são simples protestantes - o que não parece ter ocorrido neste caso.
Ainda utilizando o mesmo trecho já comentado, é válida a observação de que mais de 30 foguetes Qassam e Grad foram lançados da Faixa de Gaza para Israel em um único dia - sexta-feira.
Foguetes Qassam não são de longo alcance. A maioria deles, quando lançados, atingem regiões abertas e não deixam muitas pessoas feridas. No entanto, é claro que seus bombardeios não são motivados por ausência de alvos, apenas não atingem muitos dos seus relevantes objetivos porque estes artifícios não possuem sistemas de comando, como os mísseis.
Segundo a AJN, dos foguetes Grad e Qassam que foram lançados, um alcançou um edifício do parque industrial de Ashdod, ao sul de Israel, deixando seis pessoas feridas, uma de forma grave. Além disso, vale destacar que muitos danos têm sido prevenidos pelas Forças de Defesa de Israel, que têm utilizado a Cúpula de Ferro - um forte sistema antimísseis. Por esse recurso, os mísseis com alvo nas cidades portuárias de Ashdod e Ashkelon foram interceptados, sem falar em outros alvos.
"Os ataques aéreos lançados pelo exército israelense sobre Gaza em represália aos atentados de quinta-feira nos quais oito israelenses morreram, deixaram nas últimas 24 horas 14 palestinos mortos e 40 feridos."
Certo. E os israelenses? Há sequer alguma menção dos números de baixas do lado israelense? Percebe-se, neste parágrafo, a supervalorização de informação com um toque de sensacionalismo - ainda mais porque não há uma contraposição com os números de Israel.
Após o triplo atentado, cerca de oito israelenses morreram e mais de 30 ficaram feridos. Os números são menores, isso mesmo. Mas o objetivo não é sensacionalizar, mas informar.
Dos árabes que morreram nesta sexta-feira em Gaza, um foi o "comandante do CRP, Sameb Abed, 25 anos [...] o chefe das CRP Kamal al Nayrab e outros líderes do grupo, " (CRP - Comitês de Resistência Popular). O que não aparece na matéria é que do lado de Israel, na quinta-feira, a baixa foi do membro mais experiente da elite antiterrorista israelense YAMAM, Pascal Avrahami, de 49 anos. Isso mesmo, antiterrorista.
"Dois ativistas das Brigadas Al Qods, braço armado da Jihad Islâmica, outra organização extremista, morreram nesta sexta-feira." Meros ativistas? Faziam parte da ala militar da Jihad Islâmica, não esqueçamos.
Quanto ao recado da Anistia Internacional de que "os mortos e feridos civis dos últimos dias em Israel e em Gaza são profundamente alarmantes e esta escalada afirma a necessidade para cada parte no conflito de tomar todas as precauções possíveis para evitar as perdas civis", devemos considerar que existem dois lados neste conflito; um dos lados utiliza civis como escudos humanos, outro não; um dos lados escolhe seus alvos independentemente de quem estiver por perto, outro faz rigorosa seleção - colocando seus soldados, mesmo em meio ao risco de vida, num dilema moral, mas relevante humanitariamente.
Diante das informações prestadas pela Zero Hora, tendo como base a agência de notícias AFP, pode-se observar a demasiada atenção aos, até então, adversários de Israel. A partir do título apresentado, são perceptíveis as inclinações no decorrer do texto. Como grande parte da mídia internacional, e não é por falta de informações, a matéria apresenta supervalorização dos números de vítimas do lado palestino.
Mas isso não surpreende mais ninguém! Além de constatar o "Destaque do Editor" presente ao lado do título da presente matéria, localizada na lista de notícias do portal, basta conferir notícias anteriores relacionadas ao conflito (por exemplo: Aviação de Israel volta a bombardear Faixa de Gaza após triplo atentado) para que a visão de Zero Hora se torne escancarada (mas isso renderia outros artigos).
Por Jônatha Bittencourt
1 comentário(s):
Ficou boa a análise. Realmente, toda a mídia é viesada contra Israel; tratam terroristas islâmicos como meros "militantes".
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