Um extenso aparato de segurança criado por seu pai, Hafez... |
Após quatro meses de manifestações e de repressão feroz, o presidente Bashar Assad ainda se recusa a renunciar. O que o mantém na presidência é o extenso aparato de segurança criado por seu pai, Hafez, e dominado por seus colegas alauítas, uma seita xiita minoritária.
Os alauítas, que são 12% da população síria, manifestaram apoio a Assad, temendo que sua queda abra caminho para o massacre de seus seguidores. Se a oposição democrática pretende avançar, precisa convencer os alauítas de que eles podem se voltar contra o regime sem temer represálias.
Os líderes alauítas não se mantiveram cegos diante da acelerada erosão do poder do governo e de sua incapacidade de restaurar o controle do país. Se a segurança deles for garantida, alguns dos principais nomes dos alauítas podem optar por retirar seu apoio à família Assad e se unirem - ou ao menos auxiliar tacitamente - à oposição.
Um sinal por parte deles pode convencer poderosos líderes alauítas no Exército a desertar e levar consigo outros oficiais. Desde meados de março, conforme a repressão tornou-se cada vez mais violenta, as Forças Armadas expurgaram oficiais e soldados - entre eles muitos sunitas até então leais ao regime - para reduzir a chance de uma revolta.
Mesmo quando o comando é de um general sunita, um suboficial alauita costuma ser o verdadeiro responsável pela tropa. Como resultado dessa estrutura, não se pode confiar no Exército para promover uma repressão violenta e as Forças Armadas se veem impedidas de desertar em massa.
Com medo de serem executados, soldados insatisfeitos trabalham discretamente para abalar o regime. Líderes da oposição relatam que militares e oficiais simpatizantes os alertam sobre a iminência de ataques. Entretanto, é improvável que o alto escalão do Exército anuncie coletivamente que deixará de apoiar o governo, como ocorreu no Egito e na Tunísia. As forças da oposição não devem depositar muita esperança nessa possibilidade.
A chave da mudança está na população alauita como um todo - e não no Exército. No entanto, os alauítas precisarão receber garantias da oposição antes que decidam abandonar Assad. No mês passado, líderes religiosos e comunitários alauítas tentaram dialogar com sunitas, entre eles membros da Irmandade Muçulmana, para obterem garantias de segurança. A oposição deve fazer tais promessas e encorajar os alauítas a tomar parte na revolta em massa.
O ônus de garantir que minorias - que acreditam necessitar da proteção do regime - não sejam submetidas a atos de vingança recai sobre a maioria sunita. Esses líderes religiosos e políticos da comunidade majoritária no país podem salvar a Síria de seus demônios sectários.
Bassma Kodmani, The New York Times - O Estado de S.Paulo
Tradução de Augusto Calil
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