"Não queremos substituir Mubarak por um regime teocrático autoritário..." |
A imprensa nesta quinta-feira apresentava o partido salafista como a verdadeira "surpresa" desta votação, que deve dar ao país um Parlamento encarregado, em particular, de formar a comissão que redigirá a futura Constituição.
Estes fundamentalistas muçulmanos estavam presentes na capa do jornal independente Al Churuq, que intitulou "Al Nur, a surpresa do momento".
Já o Al-Ahram, jornal do governo, afirmava que "os salafistas surpreendem ao superar em várias circunscrições o partido 'Liberdade e Justiça' da Irmandade Muçulmana".
A Irmandade Muçulmana, que, pela primeira vez, participa sob o slogan de um partido político legal, já reivindicou mais de 40% dos votos nestas eleições, marcadas por uma mobilização inédita no país.
É seguido, segundo eles, pelo partido salafista Al Nur e pelos liberais do Bloco Egípcio, lado a lado. Segundo estimativas adiantadas pela imprensa, o Al Nur, fundado em Alexandria depois do levante popular de janeiro e fevereiro que derrubou Hosni Mubarak, obteria 20% dos votos nesta primeira etapa das legislativas.
Antes dos resultados oficiais esperados para a noite, a Irmandade Muçulmana exigiu que a principal força do Parlamento seja responsável por formar o próximo governo no Egito, onde o exército tem as rédeas desde a queda de Mubarak.
A ideia de um Parlamento dominado por uma aliança entre a Irmandade Muçulmana e os salafistas provoca inquietações nos meios laicos e na comunidade copta.
"O temor é que se as correntes islamitas dominarem o Parlamento, isto pode culminar em um sistema não democrático e autoritário sob cobertura religiosa", afirmou Hassan Nafaa, professor de ciência política na Universidade do Cairo, citado por Al Churuq.
"Não queremos substituir Mubarak por um regime teocrático autoritário", acrescentou.
De qualquer forma, a coalizão entre o PLJ e o Al Nur não é algo já conquistado. O Al Nur, que formava parte da Aliança democrática dirigida pela Irmandade Muçulmana, saiu desta para criar sua Aliança Islâmica.
Os salafistas, que reivindicaram uma interpretação mais rigorosa do islã, convocam a aplicação da sharia (lei islâmica) nos terrenos político, social e econômico.
Estes resultados só envolvem o primeiro terço do Egito, que votou na segunda e terça-feira. As eleições continuam em todo o país até o dia 11 de janeiro pelos deputados e depois até o dia 11 de março para a Shura (senado).
No entanto, se esta tendência se confirmar nas próximas etapas da eleição, a Irmandade Muçulmana se converterá na maior força política egípcia, depois de ter sido reprimida durante décadas no regime do presidente deposto Hosni Mubarak.
Fonte: ANP/AFP
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