"Embora muitos tenham atacado Gingrich por sua afirmação, poucos conseguiram dizer algo de substancial contra sua reivindicação..." |
O candidato à presidência dos EUA para os republicanos, Newt Gingrich, causou uma tempestade na semana passada, quando afirmou que não há um povo palestino. Gingrich, que nas últimas pesquisas lidera a corrida para se tornar o candidato republicano disse: ”Eu acho que nós inventamos um povo palestino, que na verdade são árabes, e historicamente parte da comunidade árabe". O principal negociador da Autoridade Palestina (AP) Saeb Erekat , respondeu dizendo que esta é "a observação mais racista que eu já vi". O primeiro-ministro da AP, Salam Fayyad descreveu os comentários de Gingrich como "uma distorção inaceitável da verdade histórica... o povo palestino habitava a terra desde o alvorecer da história. Pessoas como Gingrich devem consultar a história".
Mas Gingrich, que tem um Ph.D. em história da Europa moderna, não voltou atrás em sua resposta no dia seguinte: "O que eu disse é factualmente correto? Sim. É historicamente verdadeiro? Sim. Alguém deveria ter a coragem de dizer a verdade".
Comentário:
Como o assunto tem gerado muita discussão e é de grande importância, um comentário mais longo do que o habitual é necessário para olhar pra isso com mais profundidade.
O comentário de Gingrich tocou em alguns nervos sensíveis não só entre os árabes palestinos, mas também nos círculos políticos em países ocidentais, onde a existência de um povo palestino serve como uma base para o apoio à solução de dois Estados. É por isso que o tópico tem enchido a mídia, o mundo dos blogs e da internet nos últimos dias.
A oposição contra a declaração de Gingrich é esperada. A solução de dois Estados é construída sobre a aceitação da alegação de que existe um povo palestino, do qual foi roubada a sua terra, sua nação, e seus lugares sagrados. Se nunca houve uma nação; nunca houve uma capital palestina em Jerusalém; nunca houve um rei palestino ou sultão ou presidente; nunca houve uma cultura típica palestina; nunca houve um território específico da Palestina; palestinos nunca foram poetas nacionais, nunca houve um glorioso passado, e então a legitimidade do "caso palestino" é severamente danificada hoje.
No entanto, grande parte do debate recente tem sido um exercício fútil já que as partes não chegaram a acordo sobre definições. Por exemplo: O que é um povo? O que é uma nação? O que é um Estado? São estes idênticos ou sobrepostos? Como um povo, uma nação ou um Estado vêm a sê-lo? Isso é uma questão étnica ou é uma questão cultural e de linguagem? É questão de ser antigo? É uma questão de história comum? É uma questão de decisões políticas? É o resultado da industrialização e interesses comuns entre os habitantes de uma determinada área? As opiniões se dividem sobre estas questões entre os estudiosos. E, provavelmente, a resposta seja uma combinação de todos os itens acima em graus variados.
No entanto, no contexto atual, há certos fatos que precisam ser esclarecidos, a fim de se tomar uma posição informada. Gingrich disse que os "palestinos" são um povo inventado - e nisto, não pode haver dúvida de que ele está certo. Os "palestinos" são uma invenção recente que remonta a menos de cem anos. Mas também se pode perguntar, e o que se diz sobre os EUA ou os "americanos"? Os Estados Unidos é um Estado com muitos povos, ou seja, muitos grupos étnicos. É uma construção artificial ou inventada. Também se pode perguntar qual é a diferença entre a Noruega e a Suécia? Eles têm fronteiras territoriais específicas, mas há diferenças étnicas? Não foram estas nações, povos e identidades também inventados; apenas porque isso foi em torno de 1000 anos atrás.
Fato do problema é que a identidade é um processo evolutivo. Que vai também para a identidade nacional, embora isso normalmente leve mais tempo do que a identidade pessoal. Em princípio, todos os Estados árabes são invenções do último século, invenções europeias feitas pelas potências coloniais. Não havia, por exemplo, jordanianos, no século XVIII. Quanto aos palestinos, durante o Mandato Britânico todos os cidadãos do território do Mandato, judeus e árabes, eram chamados de "palestinos". Neste momento da história, o conflito entre judeus e árabes foi se intensificando. Então, se os "palestinos", como os conhecemos hoje, existiam naquele tempo, como podem ter os britânicos usado significativamente esta terminologia para os dois grupos? Mas naquele momento não havia "palestinos", e os árabes da região ainda foram fortemente opostos ao termo. Isto era visto como uma invenção europeia e colonial.
Da mesma forma, por que a chamada do Plano de Partilha da ONU de 1947 para o estabelecimento de um Estado judeu e um Estado árabe, não deveria ter sido "Estado judeu e palestino”? A resposta é óbvia, não havia "palestinos" – havia árabes. Os árabes da Palestina do Mandato Britânico não foram considerados uma entidade separada, como povo, mas uma parte do povo árabe (entre os árabes há também a diversidade, mas isso pode ser deixado de lado para esta discussão).
No debate, seguindo o comentário de Gingrich, foi alegado que Israel também é uma nação inventada, ou seja, uma invenção moderna. Se olharmos para o Estado de Israel, sim, ele foi inventado – ou melhor, reinventado – em 1948. Mas se falamos da nação judaica em termos de um povo, eles não são uma invenção moderna. Os judeus são um povo antigo, reconhecido por milhares de anos, não importa onde eles viviam, como uma entidade separada, com uma cultura separada, idioma e religião. Isso não pode ser dito dos "palestinos".
Se, por exemplo, nós tivéssemos perguntado a Galileu Galilei ou qualquer outra pessoa vivendo no início do século XVII o que ele pensa dos "palestinos", ele não teria entendido a pergunta. Não havia tal coisa. Poderíamos, por outro lado ter perguntado o que ele pensa dos judeus, e ele provavelmente teria uma opinião forte ou o outro lado. O mesmo vale para qualquer século que nós escolhemos na história. Se, por outro lado, perguntássemos sobre os "árabes" em vez de "palestinos", a resposta seria diferente; o povo árabe tem existido por séculos, e os árabes palestinos são parte deste antigo povo.
A invenção de um povo e uma nação é o resultado de muitos fatores entre os quais o fator étnico é dominante. Mas, embora a questão da invenção seja importante de se entender, talvez o mais importante é a razão para esta invenção. Se falamos dos árabes palestinos, as origens de uma identidade palestina podem ser rastreadas não especificamente aos eventos que ocorreram em 1920, mas somente após o estabelecimento de Israel e, especialmente, da Guerra dos Seis Dias em 1967, que fizeram com que isso ganhasse terreno comum de identidade entre as pessoas.
A motivação por trás da invenção dessa identidade era lutar contra o sionismo. Na década de 1920, a luta tomou a forma de ataques contra colonos judeus e propriedades judaicas. Depois da guerra, em 1948, os Estados árabes se recusaram a absorver os refugiados árabes palestinos, a fim de usá-los como uma arma contra Israel. O sofrimento desses árabes palestinos nos últimos 50 anos levou, em grande medida, ao nascimento da identidade palestina.
Assim, são os "palestinos" um povo inventado? Absolutamente – como muitos outros! Mas a pergunta mais pertinente seria: é a identidade palestina uma identidade legítima? E é aí que pontos de interrogação enormes abundam. O principal objetivo por trás da criação dos "palestinos" foi, e parece ser até hoje, o de combater o sionismo; lutar contra Israel (isso, naturalmente, não é verdade para todos os que se chamam de palestinos, mas aqui falamos sobre o fenômeno de uma identidade palestina).
Dada a antiga existência dos judeus e sua presença na Terra de Israel, e considerando o sofrimento que passaram durante séculos na diáspora só porque eles foram identificados como judeus, o seu regresso à sua antiga terra natal é uma causa justa. Esta foi também reconhecida pela comunidade internacional, e o estabelecimento de um Estado judeu na Israel bíblica foi, portanto, dada pela força do direito internacional em San Remo em 1920. Os judeus não são ocupantes ou colonizadores de Israel, eles retornam para o único lugar que realmente sempre chamaram de lar. A criação de um povo, os "palestinos", com o propósito de derrotar o retorno dos judeus, não é uma causa legítima.
A isto, há que ser adicionada uma observação importante: o fato de que a identidade palestina foi criada para ser usada como uma arma contra Israel, é claro, não nega os direitos palestinos árabes individuais. Eles têm direitos individuais e humanos, assim como os judeus que vivem na área os têm. Israel reconhece isso e opera de acordo com regras democráticas aceitas. Mas a questão é se os árabes palestinos têm direito a um Estado. O acima coloca um enorme ponto de interrogação acerca da legitimidade de um Estado palestino.
A poeira criada na esteira da declaração de Gingrich revela que a ideia de um povo palestino não foi resolvida – nem mesmo nas mentes daqueles que favorecem o estabelecimento de um Estado palestino. Há um monte de manobras políticas ligadas a esse tema controverso. Curiosamente, embora muitos tenham atacado Gingrich por sua afirmação, poucos conseguiram dizer algo de substancial contra sua reivindicação. Mas é difícil ver como esconder os fatos históricos simples e apoiar reivindicações ilegítimas podem contribuir para "uma paz justa e duradoura no Oriente Médio".
Por Word of Life Israel
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