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domingo, 11 de dezembro de 2011

Eleições Fraudadas no Egito

Logotipo do partido salafista Al-Nur
Segundo a comissão eleitoral do Egito, a Irmandade Muçulmana conquistou 37% na primeira rodada de votações, e os salafistas, que fomentam um programa islamita ainda mais extremista, 24%, recebendo, juntos, impressionantes 61% dos votos.

Esse assombroso resultado desperta duas questões: Trata-se de um resultado legítimo ou manipulado? Os islamitas estão prestes a controlar o Egito?

Legítimo ou Manipulado? Ninguém levava a sério as eleições soviéticas com os seus 99% de eleitores votando a favor dos comunistas. Enquanto o processo e o resultado das eleições egípcias continuarem menos flagrantes, merecerão ceticismo semelhante. O jogo é mais sutil, ainda assim um jogo - a seguir, como ele é praticado:

A Irmandade Muçulmana (fundada em 1928) e a ditadura militar (que governa o Egito desde 1952) têm uma ideologia paralela e uma longa história que faz deles simultaneamente rivais e aliados. Durante décadas, cooperaram intermitentemente em um sistema autocrático ligados pela lei islâmica (Sharia) e na opressão dos elementos liberais e seculares.

Nesse espírito, Anwar El-Sadat, Hosni Mubarak e agora Mohamed Tantawi conferiram poderes, taticamente, aos islamitas, como manobra para obter apoio do Ocidente, armas e dinheiro. Por exemplo, quando George W. Bush pressionou Mubarak a permitir maior participação política, ele (Mubarak) respondeu que o parlamento já tinha 88 membros da Irmandade Muçulmana eleitos, advertindo, assim, Washington que a democracia equivaleria à tomada de poder pelos islamitas. A aparente fraqueza dos não islamitas amedrontou o Ocidente a continuar insistindo em uma transição para a participação política. Contudo, um olhar minucioso nas eleições de 2005 mostra que o regime ajudou os islamitas a obterem 20% das cadeiras.

Hoje, Tantawi e o Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF) ainda apostam nesse antigo jogo já desgastado. Veja os diferentes métodos:

(1) Notícias sobre o aparecimento de fraude eleitoral, por exemplo: em Helwan.

(2) O SCAF, de acordo com o destacado islamita Safwat Hijazi, ofereceu um "acordo" aos islamitas: compartilhar o poder com eles contanto que façam vista grossa a sua corrupção.

(3) Os militares subsidiaram tanto a Irmandade Muçulmana quanto os partidos salafistas durante as recentes eleições parlamentares. Marc Ginsburg faz menção de um caixa dois do SCAF acumulando milhões de dólares "em dinheiro para a compra de votos, doações de alimentos e roupas", que possibilitou a centenas de sucursais de organizações políticas islamitas a compra de votos. Ginsburg fala de um emissário do SCAF que "se encontrou secretamente com representantes da Irmandade Muçulmana e de outros movimentos de orientação política islamita no último mês de abril, para criar contas bancárias para os "comitês de ação" de política local para canalizar uma cadeia clandestina de suprimentos de apoio financeiro e de commodities".

Outros ditadores no Oriente Médio, como o presidente iemenita e o presidente da Autoridade Palestina, também fazem esse jogo duplo, fingindo que são anti-islamitas moderados e aliados do Ocidente, quando na realidade são violentos, cooperam com os islamitas e reprimem os verdadeiros moderados. Até mesmo tiranos contrários ao Ocidente como o presidente Assad da Síria e Kadafi da Líbia fazem esse jogo oportunista quando há necessidade, ao retratarem gigantescos levantes contrários a eles como movimentos islamitas (lembre de como Kadafi culpou a Al-Qaeda pela insurreição líbia por terem misturado o café dos adolescentes com drogas alucinógenas).

Controlar o Egito? Se os militares conspiraram com os islamitas para se manterem no poder, obviamente eles e não os islamitas é que irão, em última análise, manter o controle. O ponto-chave que os analistas convencionais não percebem é o seguinte: os resultados da última eleição permitirão que os militares continuem no poder. Conforme observa corretamente o ambicioso político egípcio Mohamed ElBaradei, "agora está tudo nas mãos do SCAF".

Verdade, se os islamitas controlarem o parlamento (o que ainda não é certo, os militares poderiam ainda decidir reduzir a porcentagem deles em futuras rodadas de um procedimento de votação excepcionalmente complexo aberto a irregularidades), eles adquirem certos privilégios e movem o país mais em direção à Sharia – até onde, de qualquer jeito, o SCAF permitir. O que continua a tendência de longo prazo de islamização em andamento, desde que os militares tomaram o poder em 1952.

E a política ocidental? Primeiro, deve pressionar o SCAF a construir a sociedade civil que deve preceder a verdadeira democracia, de modo que os civis moderados e modernos no Egito tenham a oportunidade de se expressar.

Segundo, deve cessar instantaneamente toda ajuda econômica ao Cairo. É inaceitável que os contribuintes ocidentais paguem, mesmo que indiretamente, pela islamização do Egito. Deve voltar com a ajuda somente quando o governo permitir que muçulmanos seculares, liberais e coptas, entre outros, se expressem com liberdade e se organizem.

Terceiro, deve se opôr tanto à Irmandade Muçulmana como aos salafistas. Menos ou mais extremistas, qualquer tipo de islamitas são nossos piores inimigos.


por Daniel Pipes e Cynthia Farahat / National Review Online

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