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domingo, 20 de novembro de 2011

Mídia joga Israel debaixo do ônibus

Quem preferiu não desafiar a falsa narrativa?
Na batalha pela opinião pública, os inimigos de Israel frequentemente afirmam que o conflito israelo-palestino se baseia na discriminação racial, nas leis do apartheid e na segregação. O objetivo é convencer o público de que Israel é como a África do Sul, quanto ao apartheid, e, portanto, a causa carece de legitimidade.

No mais recente esforço de promover falsas analogias baseadas na raça, um truque dos meios de comunicação palestino tratou de vincular Martin Luther King e o movimento de direitos civis da América do Norte da década de 1960, enquanto que seis palestinos subiram num ônibus israelense na Cisjordânia com o objetivo de demonstrar a "segregação" dos palestinos realizada em Israel.

A julgar pela quantidade de cobertura, os meios de comunicação internacionais estiveram mais do que dispostos a dar exatamente a quantidade de publicidade desejada pelos palestinos envolvidos.

Como a BBC reconheceu o fato:

Os Passageiros da Liberdade da Cisjordânia deram um golpe acima de seu peso, atraindo muita publicidade para o que foi um evento relativamente pequeno, informa para a BBC, Jon Donnison na Cisjordânia.

A comparação com os Passageiros da Liberdade de 1960 nos Estados Unidos parecia capturar a imaginação de dezenas de jornalistas que se reuniram para ver o pequeno grupo abordando o ônibus, diz o nosso correspondente.

McClatchy menciona que cerca de 100 jornalistas esperavam numa parada de ônibus com os seis palestinos, no assentamento de Kojav Yakov. Outras informações afirmam que houve uma verdadeira disputa entre os meios de comunicação enquanto que os palestinos abordavam o ônibus.

Então, quem se preocupou em incluir um pouco de contexto vital?

- "Israel não tem nenhuma lei que proíbe os palestinos de usarem transporte público na Cisjordânia" - Reuters
- "Nenhuma norma específica impede os palestinos de viajarem em ônibus 'israelenses'" - The Associated Press, The Daily Telegraph
- "Os palestinos não estão explicitamente excluídos de viajar em ônibus israelenses" - Christian Science Monitor 
"Não é ilegal que os palestinos viajem em ônibus israelenses na Cisjordânia" - The Guardian

E quem preferiu não desafiar a falsa narrativa?

Los Angeles Times, BBC, Washington Post, AFPThe Independent, todos deliberadamente falharam ao não esclarecer que não há nenhuma lei que proíba os palestinos de viajarem em ônibus israelenses, omitindo esse contexto vital.

Sheera Frenkel, no entanto, foi mais um passo adiante, escrevendo tanto no McClatchy como no The Times de Londres (apenas para assinantes):

- "Seis ativistas palestinos foram presos na terça-feira quando tentavam entrar em Jerusalém em ônibus designados somente para israelenses."
- "Israel conta com duas linhas de ônibus na Cisjordânia que percorrem o circuito montanhoso até Jerusalém. Só os israelenses, no entanto, estão autorizados a utilizar o sistema de ônibus."
- "Muitos dos passageiros disseram que se surpreenderam ao saber que os palestinos não tinham  acesso permitido ao sistema de ônibus israelenses."
- "Para alguns passageiros judeus, foi uma surpresa saber que os palestinos não tinham acesso permitido ao sistema de ônibus."

Talvez os passageiros tenham expressado sua surpresa porque Frenkel havia dito a eles algo que não está realmente certo.

Existem restrições à livre circulação dos palestinos na Cisjordânia por razões de segurança, que incluem o acesso aos assentamentos judeus, mas na Linha Verde, incluindo Jerusalém, não há nada que impeça os palestinos de viajarem em ônibus israelenses dentro da Margem Ocidental e de continuar sua viagem até Jerusalém se tiverem uma permissão para fazê-lo.

Enquanto isso, Getty Images incluiu o seguinte comentário em suas fotos:

Embora não esteja oficialmente proibido aos palestinos o uso do transporte público israelense na Cisjordânia, estas linhas são efetivamente segregadas, já que muitas delas passam através de assentamentos apenas judeus, cujo acesso palestino está proibido por decreto militar.




EM ESPANHOL

A publicação do fato não foi tão massiva em espanhol. Foram detectados apenas quatro artigos, e a fonte destes é a agência AP. De forma similar ao ocorrido nas publicações em inglês, observamos na Eurovisión Noticias e Provincia:


Os palestinos abordaram o ônibus israelense numa ação publicitada, com esperança de chamar a atenção dos que consideravam medidas discriminatórias na Cisjordânia, particularmente, as restrições aos viajantes.

A Euronews mostra um vídeo curto sobre o sucedido, onde a voz em off cita o mesmo texto que aparece como notícia.

O curioso é a contradição que apresenta. Afirma que os seis palestinos foram detidos por simular os "passageiros da liberdade" e o parágrafo seguinte diz que foram presos quando tentavam entrar em Jerusalém sem a permissão necessária.

Então, por que foram presos realmente? 


Continuando imediatamente a leitura, vemos:

Tentaram fazê-lo a bordo de um ônibus reservado aos colonos israelenses que haviam subido numa colônia próxima a Ramallah, na Cisjordânia 

Já que viajavam a bordo do ônibus, podemos entender que, então, não existe tal restrição ao sistema de transportes

O mesmo pode ser observado na Prensa Latina, que afirma erroneamente que foram presos por abordar um "ônibus reservado só para colonos israelenses" e conclui com o seguinte parágrafo:

Em geral, os palestinos residentes da Margem Ocidental solicitam uma permissão para entrar na cidade santa, enquanto que os colonos judeus podem ingressar em veículos coletivos que transitam por estradas controladas por israelenses.



EM PORTUGUÊS

Como foram poucas as matérias em nosso idioma acerca do fato, todas merecem destaque devido às suas distintas formas de abordagem, porém análogas conclusivamente.

O Correio da Manhã (Portugal) tendeu pelo equilíbrio nas palavras utilizadas. No entanto, dos oito parágrafos existentes, seis estiveram centrados na intervenção israelense - considerada, em outras palavras, como ferramenta de opressão contra a expressão supostamente pacífica dos palestinos.

A começar pelo título, "Palestinianos 'desobedecem'", podemos perceber o tom irônico do Jornal da Madeira (Portugal).

Ativistas palestinianos conseguiram ontem viajar a bordo de um autocarro da rede pública de transportes israelitas "segregados", partindo da Cisjordânia em direção a Jerusalém Oriental, onde não conseguiram entrar.

A polícia deteve os ativistas para interrogatório, tendo aqueles gritado: "apartheid", "racistas", "parem com a ocupação".

Como podemos ver, novamente estão em foco os "injustiçados" devido à suposta política de apartheid existente nos sistemas de ônibus israelenses. Uma notícia desprovida de um aprimoramento noticioso, cumprindo apenas a necessidade de apresentar fatos da maneira mais rápida possível, seguindo a linha da grande mídia num sentido geral.

Opera Mundi conseguiu superar muitas publicações quanto à quantidade de detalhes e "identificação" com a causa dos ativistas.

Além de Badia, outros cinco ativistas – Nadeem al-Sharabati, Huwaida Arraf, Basel al-Araj, Fadi Quran, and Mazin Qumsiyeh – esperaram o ônibus da empresa “Egged” com destino à capital do conflito. Dois ônibus viram os palestinos – estavam acompanhados por grande quantidade de imprensa e ativistas – e não pararam. “Devíamos ter pego o ônibus das 2:42, mas ele não parou.  Não desistimos. Finalmente, às 3h7, um ônibus parou e entramos nele”.

Assim como a última flotilha que tentou quebrar o bloqueio naval à Gaza, os palestinos tinham do seu lado imprensa e ativistas. Palestinos não-autorizados, ônibus que não param, um que permite a entrada dos ativistas, fiscalização atuante: o quadro perfeito para explicitar a tal "segregação".

Arturo Harfmann, autor do texto publicado na Opera Mundi, adotou em seu texto o que a mídia convencional - presente em massa - sequer utilizou como centro das atenções. Apresentou o fato com tamanha sensibilidade notória, falando sobre a "violência" aplicada pelos militares israelenses aos ativistas palestinos.

Na Euronews, constatamos a mesma linha de raciocínio das agências anteriores. A "segregação" e o suposto "privilégio israelense" são o alvo da matéria. No parágrafo final, há um apontamento sobre a "autorização especial para entrar em Jerusalém [...] atribuída a trabalhadores da construção civil". Mal entendem o tema, atribuindo a questões raciais o que faz parte de um rol de complexidades.


De fato, uma das grandes ironias do conflito é que muitos palestinos estão legalmente engajados em projetos de construção dentro dos próprios assentamentos.

Em meio às acusações de discriminação e segregação, os seis manifestantes palestinos foram capazes de se assentar no ônibus sem temor dos israelenses até a chegada no posto de controle Hisma. Diferentemente de terroristas palestinos, os israelenses não abordam ônibus públicos com o fim de sacrificar a si mesmos ou de atacar os passageiros. Estes seis palestinos foram capazes de abordar o ônibus israelense, enquanto que a maioria dos israelenses evita um ônibus palestino por medo de perder suas vidas.

De fato, os meios de comunicação deveriam se perguntar por que compraram um truque de publicidade palestina centrada no sistema de ônibus. Depois de tudo, não foi prova de que os palestinos foram excluídos. Os seis compraram bilhetes e se assentaram como qualquer outro passageiro.

A verdadeira questão deveria ter sido a negação da entrada em Jerusalém e a Israel propriamente. A livre circulação de um milhão de árabes cidadãos israelenses, de palestinos residentes em Jerusalém oriental e de palestinos da Cisjordânia com permissão aprovada deve ser suficiente para pôr fim à noção de racismo, mais que a política de segurança israelense.

Muitos israelenses recordam uma época na década de 1990 e uma anterior a ela, quando ambas partes se moviam com relativa liberdade entre Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaza. Foi só com o estalido da campanha de terror palestino, incluindo o uso de terroristas suicidas, que as restrições de circulação dos palestinos chegaram ao seu nível atual. Os meios de comunicação deveriam se perguntar quão culpáveis são os mesmos palestinos por criar esta situação na qual as verdadeiras vítimas foram israelenses assassinados por terroristas palestinos.

Estas restrições, com as quais um ou outro simpatiza ou não, foram promovidas inicialmente por questões de segurança. Apresentá-las como baseadas no racismo e invocar a memória de Martin Luther King é, simplesmente, falso e um insulto à memória do movimento dos direitos civis dos Estados Unidos.

O que para os meios de comunicação seria uma história digna de cobertura, diz muito sobre o contexto no qual são vistos Israel e o conflito.


Por Simon Plosker / Reporte Honesto
Tradução e informações adicionais: Jônatha Bittencourt

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