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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Hamas e Fatah: o Governo de Unidade que não é - e nem será.

Fatah e Hamas sabem que a unidade significa a
perda de respaldo financeiro de seus patrocinadores.
Cada vez que Fatah e Hamas anunciam que estão perto de terminar sua disputa, os palestinos descobrem, rapidamente, que os dois partidos rivais não estão dizendo a verdade. Em muitos sentidos, o status quo não está tão mal para Fatah e Hamas. Os dois partidos têm, de fato, um interesse comum em mantê-lo enquanto podem.

Para o Fatah, que está no controle de grandes faixas de terra da Cisjordânia, a situação não poderia ser melhor.

Graças à contínua ajuda financeira dos estadunidenses e da UE, a economia da Cisjordânia é relativamente boa, e dezenas de milhares de funcionários civis da Autoridade Palestina estão recebendo seus salários em dia. Aqueles que pensam que o Fatah faria de tudo para voltar à Faixa de Gaza estão enganando a si mesmos.

Desde que foi expulso da Faixa de Gaza, no verão de 2007, o Fatah já não se faz mais responsável pelo que acontece nessa região. A liderança do Fatah já não está mais se sentindo culpada pelos ataques com foguetes e mísseis lançados de lá, e ninguém acusa Mahmoud Abbas e Salam Fayyad de não melhorar as condições de vida dos 1,5 milhões de palestinos que vivem ali.

Antes de 2007, a Autoridade Palestina, dominada pelo Fatah, era responsável por tudo o que acontecia de errado na Faixa de Gaza, incluindo os ataques terroristas contra Israel.

O Fatah já não é responsabilizado pela pobreza ou pelo contrabando de armas, através dos túneis subterrâneos, do Egito para a Faixa de Gaza. Agora ele está assentado na Cisjordânia e se beneficia dos milhões de dólares que são depositados em seus cofres todos os meses.

Ironicamente, a presença da segurança de Israel na Cisjordânia é uma das principais razões pelas quais Abbas e Fayyad seguem no poder. Os líderes do Fatah sabem que o dia em que Israel se retirar dali, o Hamas voltará a ser tão forte a ponto de tomar o controle da região em questão de dias ou semanas.

Para o Hamas, por sua vez, o status quo é bom porque o movimento islamita segue controlando a Faixa de Gaza sem ter que enfrentar desafios reais. Cinco anos de sanções econômicas, bloqueios e operações militares não conseguiram minar o controle ferrenho do Hamas na Faixa de Gaza.

A "Primavera Árabe", que parece ter sido sequestrada pela Irmandade Muçulmana e seus aliados no mundo árabe, assim como o recente acordo de troca de prisioneiros com Israel, só reforçaram a posição do Hamas entre seus eleitores na Faixa de Gaza.

Tanto o Fatah como o Hamas têm seus próprios governos e forças de segurança nas zonas sob seu controle na Cisjordânia e na Faixa de Gaza respectivamente. Eles, inclusive, têm suas próprias prisões, onde mantêm e torturam mutuamente os prisioneiros.

Enquanto Abbas e Fayyad estão recebendo dinheiros dos estadunidenses e europeus, o Hamas tem recebido ajuda financeira do Irã e de alguns países do Golfo. Tanto o Fatah como o Hamas sabem que a unidade significa perder respaldo financeiro de seus patrocinadores do ocidente, de Teerã e do mundo árabe.

É por isso que não eles têm pressa em chegar a algum acordo para formar um governo de unidade. Quem precisa de um governo quando os palestinos já têm dois governos?

Abbas e o líder do Hamas, Khaled Mashaal, mentiram aos palestinos duas vezes nos últimos seis meses.

A primeira vez foi em março, quando os dois homens anunciaram, no Cairo, que haviam chegado a um "histórico" acordo de reconciliação para pôr fim às suas diferenças e formar um governo de unidade. A segunda vez foi semana passada, quando se reuniram novamente na capital egípcia e declararam que tinham entrado em acordo de abrir uma nova página em suas relações, além de trabalharem como sócios.

Muitos palestinos se mantêm céticos sobre as intenções de Fatah e Hamas. Sabem que os dois partidos prefeririam manter o status quo do que arriscar perder a ajuda financeira por causa de um governo de unidade. Para Hamas e Fatah, dois Estados palestinos são melhores do que um.

Por Khaled Abu Toameh
Tradução: Jônatha Bittencourt

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