Judeu ultra-ortodoxo em Jerusalém |
É uma visão curiosa dada a história de Israel como defensor dos direitos da mulher. O país produziu uma das primeiras chefes de um governo democrático com a eleição de Golda Meir, em 1969. Mulheres lideram a Suprema Corte e dois dos principais partidos políticos do país. Israel alista mulheres no serviço militar e tem algumas das mais duras leis do mundo contra assédio sexual e estupro.
Ainda assim, as israelenses dizem que recentemente alguns de seus direitos mais básicos têm estado sob ataque, incluindo cantar e dançar em público, disputar a liderança de associações estudantis em colégios religiosos, aparecer em outdoors em Jerusalém, falar em rádios religiosas e mesmo usar a calçada durante feriados religiosos.
As feministas, que um dia pensaram que a luta pela igualdade dos sexos estava praticamente ganha, alertam para um novo ataque vindo da comunidade ultraortodoxa, que cresce rapidamente e tenta expandir a segregação na esfera pública.
— Estamos retrocedendo e perdendo nossas conquistas — disse Rachel Liel, diretora-executiva da Fundação Novo Israel, de direitos civis. — Uma democracia do século XXI não é lugar para mulheres se sentarem no fundo do ônibus.
Comparado a outros países, Israel caiu da 36 posição que ocupava em 2007 para a 55 em 2011 no ranking de igualdade de gêneros, de acordo com um índex do Fórum Econômico Mundial.
Um estudo feito no ano passado pelo grupo Centro de Ação Religiosa de Israel, que lidera uma campanha para as mulheres poderem rezar no Muro das Lamentações, descobriu que as tentativas de segregar homens e mulheres extrapolaram de prédios privados e locais religiosos a espaços públicos, incluindo agências dos correios, pizzarias, mercearias e bazares.
— Eles tentam um pouco, veem se funcionam, e então forçam um pouco mais a cada vez até que as coisas atinjam um ponto crítico e irreversível — explicou Anat Saragusti, diretora de Agenda, grupo israelense que defende direitos das minorias. — É aí que as pessoas despertam. Mas a essa altura, frequentemente é muito tarde.
Durante um feriado religioso na semana passada, moradores homens do bairro ortodoxo de Mea Shearim, em Jerusalém, proibiram as mulheres de usarem as principais ruas para evitar a mistura de sexos, desafiando uma ordem da Suprema Corte. No ano passado, o mesmo bairro havia construído uma calçada separada, coberta, que as mulheres foram obrigadas a usar, numa medida rejeitada pela Corte como discriminatória.
A Orquestra Israelense Andaluza, na cidade de Ashdod, anunciou no mês passado que estava tirando uma cantora de sua programação após conservadores reclamarem que era contra a religião ouvir uma mulher cantando em público.
Ativistas têm contra-atacado colando cartazes delas próprias em Jerusalém para protestar contra a censura à imagens de mulheres em outdoors.
Os líderes ortodoxos concordam que existe um problema, mas dizem que são as comunidades seculares e liberais que tentam impor seus valores modernos e evitar que os ultraortodoxos - também conhecidos como haredim - pratiquem sua forma rigorosa de judaísmo. Seus valores tradicionais incluem restrições à TV e internet, código de vestuário discreto e segregação dos sexos, o que dizem ser necessário para proteger as mulheres da exploração sexual e os homens da tentação.
— As mulheres andam pelas ruas como se estivessem na praia — declarou o rabino Shmuel Pappenheim, porta-voz de uma organização que reúne grupos ortodoxos. — Eles desafiam nosso modo de vida, levando nossa gente a impor novas restrições, aprofundando a separação.
Fonte: O Globo
Foto: Sebastian Scheiner / AP
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