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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Adolescentes indianas vítimas de conversões forçadas

Entre 20 e 25 jovens são sequestradas por
mês e imediatamente adotam o Islã.
Carachi, Paquistão - Em dezembro, a jovem indiana Bharti, de 15 anos, saiu de casa, nesta cidade paquistanesa, para ir à aula de costura. Nunca voltou.

Três dias depois, seu pai, Narain Das, soube que ela se converteu ao Islã. “Ficamos muito preocupados quando não voltou. Por fim soube que tinha sido sequestrada pelo filho do policial da área quando ela estava perto de uma loja para comprar aviamentos. Ela ficou retida por três dias. Não sei o que sofreu. Depois afirmou que ela aceitara se casar”, contou Das, um motorista de 55 anos que no momento está desempregado.

A população indiana representa apenas 1% dos 180 milhões de habitantes deste país. A independente Comissão de Direitos Humanos do Paquistão (HRCP) notou um preocupante aumento no número de sequestros de meninas indianas que são obrigadas a se converter ao Islã.

O último caso noticiado foi o de Lata Kumar, médica do Hospital Universitário Aga Jan, em Carachi, sequestrada no dia 28 de fevereiro. O caso acabou na justiça. Seu pai, Ramesh Kumar, que tem uma clínica particular em Jacobabad, povoado da província de Sindh, disse à IPS que, “no tribunal, quando ela passou ao lado de outra filha minha, Jyoti, sussurrou desesperada ‘faça algo por mim’, antes de ser levada a toda pressa”.

Kumar está seguro de que sua filha, agora comprometida a se casar, não fugiu. “Por que teria pedido nossa ajuda se fugiu? E se sua conversão foi por vontade própria, por que não podemos vê-la? Afinal, somos sua família”, afirmou.

A Alta Corte de Sindh determinou a Lata permanecer em um abrigo estatal até que dê seu veredito. Mas alguns legisladores duvidosos quanto à sua segurança pediram às autoridades para levá-la a Islamabad. Lata está no abrigo com Rinkle Kumari, agora com o nome Faryal Shah, de Ghotki, província de Sindh. Seu pai, o professor Nand Lal, mudou com toda a família e se instalou em um templo sij, em Lahore, na província de Punjab.

“Pelo menos entre 20 e 25 jovens são sequestradas por mês e imediatamente adotam o Islã”, disse Amarnath Motumel, advogado da HRCP. O medo pelos sequestros e das conversões é tão grande dentro da comunidade indiana, que muitas pessoas do interior da província de Sindh deixam de mandar suas filhas à escola quando chegam à adolescência.

O ex-legislador Ramesh Kumar, presidente do Conselho Indiano do Paquistão, disse que as conversões forçadas, as chantagens e os sequestros com pedido de resgate fazem com que muitas famílias indianas emigrem todos os anos. “É nosso lar, mas quando o Estado não garante a proteção de seus cidadãos, a única saída é ir embora. As coisas estão fora de nosso controle”, lamentou Kumar.

Lakshman, o filho de 24 anos de Narain Das, se converteu ao Islã há alguns anos e foi embora de casa. Três anos depois retornou em estado deplorável, com o nome de Abdul Rehman e implorando aos pais que o aceitassem. Contudo, no Paquistão, quando um muçulmano renega o Islã é castigado com a morte. “Para salvá-lo tivemos que converter uma menina indiana ao Islã e casá-los”, afirmou.

A primeira vez que Dhan Bai viu sua filha Bharti após o sequestro foi no julgamento. “Estava coberta dos pés à cabeça com uma túnica negra por cima da roupa, algo que jamais usara. Só se via seus olhos, e parecia ter chorado”, contou.

O jornalista indiano Amar Guriro explicou que a maioria das conversões forçadas ocorre nas castas altas ou empresariais indianas. Há casos reais em que as adolescentes são sequestradas, obrigadas a se converter e se casar com muçulmanos, afirmou, mas também há outros em que elas “adotam o Islã por vontade própria porque o dote é um grande problema em nossa comunidade”, acrescentou.

Em alguns casos, disse, “as famílias da jovem devem pagar até dois milhões de rúpias (US$ 22 mil) de dote, do contrário ela não pode se casar. Às vezes, quando conseguem um companheiro, decidem fugir”, detalhou o jornalista. A comunidade indiana tem 17 das 30 cadeiras reservadas às minorias religiosas na assembleia nacional e nas quatro províncias, mas “nunca se preocuparam em regulamentar o sistema de dote nem a conversão forçada”, observou Guriro.

Motumel reconheceu que o dote faz muitas mulheres indianas se casarem fora de sua comunidade, mas os extremistas islâmicos deram todo um novo sentido às conversões. “Pregam aos jovens, dizendo que converter uma pessoa ao Islã lhes garante um lugar no Paraíso”, apontou.

O clérigo Mufti Mohammad Mufti Naim, do seminário Jamia Binoria, em Carachi, disse que as conversões forçadas “são pura propaganda das organizações não governamentais contra ele. Mas reconheceu que “devemos ter convertido cerca de 200 homens e mulheres ao Islã nos últimos oito ou nove meses”.

“Tenho uma lista das pessoas convertidas, e todos o foram por vontade própria. Pode chamá-las e perguntar se foram obrigadas ou coagidas. Vivem em uma cultura islâmica e é natural que se sintam atraídas para ela”, explicou. Quem propaga a mensagem do Islã e “atrai pessoas será abençoada”, destacou Naim.

“Perdi a fé na justiça”, lamentou Motumel, que representa cerca de 20 famílias indianas em casos de conversão religiosa. “A primeira coisa que o juiz pede à jovem é que recite o Kalma (princípio básico pelo qual se aceita ser muçulmano), e depois que o faz nenhuma família indiana a recupera”, acrescentou. No julgamento, “quando entra uma jovem, costuma estar rodeada por fanáticos religiosos que criam um clima de temor, não só para ela, mas para os advogados e também juízes. Do lado de fora há homens armados esperando a saída da multidão”, acrescentou Motumel.

Por Zofeen Ebrahim
Envolverde/IPS

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