Páginas

sábado, 19 de maio de 2012

Um problema para o qual Israel não se preparou

A situação merece consideração profunda diante dos
prós e dos contras.
Uma guerra interna está em ritmo cada vez mais acelerado, em Israel. Ela diz respeito ao crescente número de refugiados africanos que têm cruzado as fronteiras com o Estado Judeu para fugir de conflitos em seus países, da fome e do atraso. São milhares e milhares de homens, mulheres e crianças de países como Sudão e Eritréia, que, sem permissão para trabalhar no país, acabam vagando pelas ruas. Certos lugares já viraram centros de refugiados legais ou ilegais, como o Sul de Tel-Aviv, principalmente a área da antiga rodoviária, Eilat e Arad.

Diante desse fenômeno, os israelenses se dividem entre os que apoiam a entrada de refugiados em perigo de vida e apelam para que o governo lhes conceda asilo político ou humanitário; e os que são contra a infiltração de milhares de imigrantes ilegais e exigem que o governo os deporte para seus países de origem e evite que mais e mais deles cruzem a fronteira. Os dois lados têm seus motivos e explicações.

Para os que são antirrefugiados, Israel precisa se recordar do objetivo para o qual o país foi criado – para ser a pátria de judeus perseguidos – e evitar que centenas de milhares de pessoas que não se encaixam nessa definição entrem no país, ocupem vagas de emprego de israelenses e aumentem a violência interna. Para os pró-refugiados, Israel precisa se lembrar justamente das agruras vividas por judeus perseguidos de diversas partes do mundo durante toda a História – expulsões, ameaças, racismo, xenofobia, genocídio – e ajudar os que, hoje, sofrem dessas mesmas agruras.

São dois pontos de vista que não conseguem se conciliar e que começam a causar tensão interna. Principalmente depois que diversos crimes começam a ser cometidos pelos refugiados africanos, sem emprego e sem inclusão social. Há duas semanas, por exemplo, foram presos dois cidadãos da Eritréia em Tel-Aviv, acusados de violar uma menina de 15 anos no Dia da Independência. Outro refugiado é suspeito de ter segurado o namorado da garota enquanto ela era violada, além de ter roubado dinheiro e jóias do casal. Na semana passada, outros quatro africanos foram detidos por suspeita de terem atacado sexualmente uma jovem de 19 anos.

O clima ficou ainda mais pesado depois que morador do sul de Tel-Aviv jogou uma bomba caseira contra uma casa onde moram africanos em busca de asilo político. No Facebook, dezenas de páginas foram abertas com títulos como “Não há vergonha em dizer: não queremos refugiados por aqui”, “Eilat sem refugiados”, “2400 imigrantes ilegais por mês, precisamos parar com isso agora”, “Fora, refugiados”, “Imigrante? Não no meu lar”, “Cidadãos contra infiltradores” e etc. Um abaixo assinado contra a infiltração de africanos, que chama de “bomba-relógio”, foi aberto na internet em 22 de abril e já conta com quase mil assinaturas.

Diante dessa reação de israelenses que se sentem ameaçados, a ONG Centro de Ajuda para Trabalhadores Estrangeiros (http://www.hotline.org.il/hebrew/index.htm) criou um vídeo no qual tenta passar uma mensagem de conciliação e de aceitação das diferenças. Em pouco mais de dois minutos, o famoso ator Eli Finish diz, em hebraico:

“Sob os nossos narizes acontece algo que não podemos ignorar. Pedintes de asilo chegam do deserto fugindo de guerras e do perigo de vida. Eles fogem para proteger suas vidas e passam por jornadas terríveis com histórias de quebrar o coração. Mas, a partir de agora, quando chegarem a Israel, uma surpresa os esperará. Neste momento, o governo consolida a Lei de Inibição de Infiltração, segundo a qual todos que entrarem no país sem permissão, serão enviados para a prisão por pelo menos 3 anos. E quem vier de um lugar considerado inimigo, como Darfur, será preso por um período ilimitado que pode durar toda a vida. Imagino que o governo queira prevenir que eles cheguem, mas acho que uma pessoa que está em perigo de vida vai fugir e chegar mesmo que saiba que pode ir para a prisão. Essa é a solução? Prisões cheias de milhares de coitados?”

Não sei qual é a solução. Se eu soubesse, correria para sugerir a alguém. Mas com certeza esse é um problema moderno que Israel não pensou que um dia se depararia. Quem imaginava, há 40, 50 anos, que o Estado Judeu se consolidaria como o mais “seguro” do Oriente Médio, o lugar para o qual milhares de africanos, mesmo os muçulmanos, sonham em chegar para fugir de genocídios e da fome? A situação merece consideração profunda diante dos prós e dos contras. Mas, principalmente, diante de cada um dos refugiados e da consciência coletiva de todo um país.

Por Daniela Kresch / Rua Judaica

O Cessar-Fogo está aberto para a opinião de seus leitores. Caso tenha outro posicionamento relacionado à questão abordada acima, envie seu artigo ou indicação de matéria para editor@cessarfogo.com . Após a avaliação e aprovação do material enviado, ele será encaminhado para publicação. 

0 comentário(s):

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário.