Não são todos os judeus dos EUA e todos os israelenses que apoiam Benjamin Netanyahu e estão contra o presidente Barack Obama. A comunidade judaica americana está distante de ser homogênea, assim como a população de Israel adota posições distintas sobre qual deve ser o destino do processo de paz. O atual presidente americano não teve 80% dos votos de judeus americanos por ser pró-Israel. Muitos votaram nele por concordar com a sua política econômica, por suas posições mais liberais em questões sociais, por serem contra a Guerra do Iraque e uma série de outros fatores.
Nas próximas eleições, a comunidade judaica americana, assim como o restante da população, pesará uma série de fatores na suas decisões. Um judeu ortodoxo casado, com seis filhos, do bairro de Williamsburg, certamente terá interesses distintos do Mark Zuckerberg, um judeu liberal, namorado de uma menina de origem chinesa, morador da Califórnia, ex-estudante de Harvard e dono do Facebook. O universo deles é completamente distinto. Zuckerberg possui mais em comum com o executivo da Google Wael Ghonim, que é egípcio e muçulmano, do que com colonos na Cisjordânia.
O Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelense (AIPAC em inglês), poderoso lobby conservador pró-Israel, representa uma parcela expressiva da população judaica americana, mas não todos. Alguns de seus membros são ortodoxos, mas há também reformistas. Muitos judeus religiosos podem ser menos radicais na defesa de Israel do que seculares. E vice-versa.
A J-Street e outros lobbies liberais pró-Israel também têm apoio entre muitos judeus americanos. Eles costumam ser jovens e urbanos, de cidades como Nova York e Los Angeles e concluíram que ser pró-Israel não implica em ser anti-Palestina. Na verdade, assim como o presidente Barack Obama, descobriram que ser pró-Israel e pró-Palestina não são mutuamente excludentes. Um de seus principais financiadores é George Soros, sobrevivente do Holocausto, mas, apesar de judeu, chega a ser classificado equivocadamente como anti-Israel pelos mais conservadores (no sentido político).
Basicamente, há nos EUA aqueles que defendem concessões israelenses aos palestinos, como o retorno a linhas próximas das de 1967, com as trocas de terras necessárias para ajustar às fronteiras às mudanças demográficas dos últimos 44 anos. Tampouco acham impossível que Jerusalém Oriental seja capital dos palestinos. Obama, os lobbies pró-Israel liberais e jornais como o New York Times são alguns que apoiam esta visão de paz.
Outros, como a AIPAC, membros do Congresso dos EUA e o Wall Street Journal, tendem a se alinhar com Netanyahu. Na visão deles, o Estado palestino pode existir, mas Jerusalém é indivisível, as linhas de 1967 sequer devem ser mencionadas e outras condições que garantam a segurança de Israel devem ser impostas. Não há certo e errado nesta discussão, apenas posturas distintas. Resolução de conflito é uma ciência humana, não exata.
Em Israel, também existem divisões. Quando cobri as eleições em 2009, fiz um levantamento de como seria o resultado cada cidade israelense fosse um país. Provavelmente, Tel-Aviv teria feito paz com os palestinos. Se fosse Jerusalém, o governo de Israel seria ainda mais conservador. Veja os números abaixo:
Como seria o governo de Israel…
…se todos os israelenses fossem de Jerusalém.
O Likud, de Benjamin Netanyahu, (24%) poderia formar uma coalizão de governo apenas com os partidos religiosos de direita. O principal parceiro seria o United Torah–Judaism (19%). O ultra-ortodoxo Shas (15%) garantiria a maioria sem a necessidade de aliança com o anti-árabe Israel Beitenu (6%), de Avigdor Lieberman. A oposição seria fraca, com o Kadima (11%), os trabalhistas (6%) e o Meretz (3%).
…se todos os israelenses fossem de Tel-Aviv.
O Kadima (34%) poderia liderar uma coalizão de centro-esquerda apenas com o apoio dos Trabalhistas (15%) e do Meretz (8%). O Likud (19%) ficaria na oposição com os partidos religiosos (somados, menos de 10%).
…se todos os israelenses fossem do assentamento de Ariel.
O Likud (45%) poderia governar praticamente sozinho, se aliando a pequenos partidos. A oposição seria dominada pelo Israel Beitenu (31%). O Kadima (10%) e os trabalhistas (2%) seriam praticamente irrelevantes.
…se todos os israelenses fossem de Sderot (cidade atingida por foguetes do Hamas).
O Likud (33%) teria a opção de se aliar ao Shas (13%) e partidos pequenos ou ao Israel Beitenu (23%). O Kadima (12%) e os trabalhistas (5%), que lideraram a operação contra o Hamas em Gaza, formariam uma enfraquecida oposição.
…se todos os israelenses fossem de Umm al-Fahm (maior cidade árabe de Israel que não seja mista).
Israel seria um país comunista. O Hadash, com deputados judeus e árabes, teria 54% dos votos. Eles poderiam ter um governo de unanimidade com os outros partidos árabes. Likud, Kadima, trabalhistas e Israel Beitenu zeraram e não entrariam no Knesset.
…se todos os israelenses morassem em Kibutzim.
Israel seria governado por uma coalizão do Kadima (31%), os trabalhistas (31%) e o Meretz (18%). Praticamente não haveria religiosos. Na oposição, o Likud (6%).
Fonte: Gustavo Chacra
Via: Jornal Alef
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