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sábado, 31 de março de 2012

Primavera Árabe com gosto amargo

"São necessários salários justos e sistemas
de educação e saúde adequados."
A transformação social e política que se vive no Oriente Médio e no Norte da África traz consigo desafios econômicos como o enorme desemprego, o retorno dos emigrados e a redução de renda no setor do turismo.

Como o mal-estar econômico foi o disparador das revoltas populares no mundo árabe, o crescimento da economia é fundamental para sustentar os frutos das revoluções.

“Nas sociedades jovens, que têm necessidade de criar centenas de milhares de postos de trabalho por ano, são extremamente importantes os esforços para implantar políticas econômicas e para reestruturar vários setores de atividade”, disse à IPS o professor adjunto de estudos sobre Oriente Médio da Universidade Americana de Paris, Ziad Majed. “Por isto, deve-se priorizar o desenvolvimento de novos contextos de cooperação econômica regional e internacional com organizações dos setores público e privado, não só pelo benefício que isto possa trazer, mas também pela estabilidade e prosperidade das sociedades em questão”, acrescentou.

Segundo a Organização de Turismo Árabe, as revoltas populares que começaram no início do ano passado e levaram à queda dos regimes da Tunísia, Líbia e Egito, custaram à região quase US$ 96 bilhões, 18% apenas no setor turístico. No Oriente Médio e no Norte da África, o turismo é a segunda fonte de divisas, depois do dinheiro enviado pelos emigrantes. O setor tem papel crucial na geração de empregos e na redução da dependência de outros recursos econômicos.

No Egito, o turismo emprega quase dois milhões de pessoas, gera 11% do produto interno bruto e é a principal fonte de divisas, representando 20% do total. Na Tunísia, a atividade emprega cerca de 400 mil pessoas nesse setor, que gera quase 8% do PIB e é a principal fonte de divisas do país. A Síria produziu em 2011, antes do conflito, mais de US$ 8 bilhões devido a um aumento de 40% na chegada de visitantes.

A região tenta recuperar a estabilidade, enquanto ocorrem distúrbios como os de Bahrein, onde se estima que os 12 meses de conflito custaram quase US$ 800 milhões. O crescente desemprego e a perda de remessas contribuíram para essa paralisia. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, o desemprego no mundo árabe chegou a 10,3% no ano passado, bem mais do que a média global de 6,2%.

A população do Egito, de 85 milhões de pessoas, representa um terço dos habitantes do mundo árabe, e cresce 2% ao ano. Dois em cada três cidadãos têm menos de 30 anos e 90% dos desempregados correspondem a essa faixa de idade. No ano passado, o Índice de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial sustentou que as instituições da região não puderam criar ambientes econômicos e sociais capazes de impulsionar o espírito empresarial dos jovens.

“Agora, são necessários salários justos e sistemas de educação e saúde adequados”, disse Hassan Massri, jovem de 25 anos formado em administração de empresas. “Investir em jovens empresários é uma alternativa para os recém-formados que entram em um mercado de trabalho inexistente”, afirmou à IPS. “Os jovens egípcios, que foram o motor das mudanças políticas, têm muito potencial para contribuir com o desenvolvimento econômico do país. Não devemos desperdiçar nossos talentos”, ressaltou.

Nos últimos 30 anos, as remessas foram a fonte mais importante de investimento privado nas zonas rurais e urbanas do Egito, desde as ocupações menos capacitadas até as melhores. Em 2009, o Banco Mundial situou este país entre os dez principais receptores de remessas entre os países desenvolvimentos. “O informe mundial da Organização Internacional para as Migrações (OIM) reconhece que o repentino retorno de grandes quantidades de cidadãos, após a transição política que se seguiu aos conflitos civis de Tunísia, Egito e Líbia, poderá causar um grave impacto na estabilidade econômica destes países”, declarou à IPS a diretora de programa no Cairo, Piera Solinas.

“Já sofrem um alto desemprego e agora devem absorver uma grande quantidade de repatriados. Esses países também sofrerão o impacto econômico com esses mesmos trabalhadores parando de enviar dinheiro”, destacou Solinas. Este é o caso do Egito, disse. “Já chegaram quase 200 mil repatriados. A maioria é de adultos homens semiqualificados, provavelmente solteiros ou principal sustento de familiares que viviam graças às remessas que enviavam e que agora desapareceram”, explicou.

O professor Majed afirmou que são necessárias medidas urgentes de recuperação. “Pode-se criar incentivos, projetos de geração de empregos, iniciativas especializadas, capacitação vocacional e investimentos para desenvolver economias nacionais e ampliar suas bases sociais. Isto reduzirá as pressões da imigração, as tensões sociais e a pobreza, e também permitirá o surgimento de setores econômicos mais dinâmicos”, acrescentou.

Fonte: Envolverde/IPS

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