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sábado, 31 de março de 2012

Grupo pró-israelense pede o reinício do processo de paz com a Palestina

A conferência foi marcada por polêmicas.
Na terceira conferência anual da organização norte-americana J Street, grupo de pressão “pró-Israel e pacifista”, o conflito entre israelenses e palestinos ofuscou a tensão com o Irã. A J Street é considerada o contrapeso em Washington do direitista Comitê Norte-Americano de Assuntos Públicos de Israel (Aipac), que defende as políticas do Estado judeu.

Embora a questão iraniana estivesse presente na conferência realizada em Washington entre os dias 24 e 27, a J Street tentou concentrar as discussões no que ocorre nos territórios palestinos ocupados. Isto foi em reação à estratégia do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que colocou o Irã no centro da atenção internacional, deixando em segundo plano a situação de Gaza e Cisjordânia.

A conferência já começou com polêmica. O jornalista e analista político Peter Beinart, a quem o presidente da J Street, Jeremey Bem-Ami, qualificou de “trovador de nosso tempo”, publicou em sua coluna um chamado de boicote aos produtos das colônias judias na Cisjordânia. Na conferência, Bem-Ami criticou duramente a proposta de Beinart, o que gerou momentos tensos. Quando o tema surgiu em uma das sessões plenárias, a multidão se dividiu entre partidários e opositores da ideia.

A J Street também foi criticada em alguns círculos, especialmente grupos palestinos, por ter convidado a Washington o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert (2006-2009). O principal jornal judeu nos Estados Unidos, The Forward, publicou uma matéria reprovando a J Street por convidar Olmert, a quem organizações defensoras dos direitos humanos responsabilizam por crimes de guerra cometidos no Líbano, em 2006, e em Gaza, em 2008 e 2009. Olmert renunciou ao cargo em meio a acusações de corrupção.

O governo de Israel foi criticado no ano passado por não participar da conferência da J Street. Este ano, Netanyahu decidiu enviar o chefe adjunto da missão da embaixada em Washington, Baruch Binah, para admoestar a organização por pressionar o Estado judeu. A atitude de Binah marcou um drástico contraste com o chamado ao diálogo feito por praticamente todos os demais oradores.

Após ter enviado seu principal conselheiro de segurança nacional à primeira conferência e seu chefe negociador no Oriente Médio à segunda, o presidente norte-americano, Barack Obama, este ano mandou o máximo conselheiro de política externa da vice-presidência, Anthony Blinken, e sua própria porta-voz, Valerie Jarrett, com pouco conhecimento sobre assuntos palestino-isralenses. Isto foi interpretado como um sinal de que o governo prefere manter cautela em relação à J Street.

O discurso de Jarrett se centrou principalmente em fazer campanha pela reeleição de Obama em novembro, e praticamente não tocou em assuntos de política externa. Por sua vez, Blinken reiterou os conceitos do último discurso de Obama na Aipac, reiterando o apoio de Washington à segurança de Israel, pedindo o fortalecimento da cooperação militar entre os dois países e destacando que o governo dos Estados Unidos não permitirá que o Irã desenvolva armas nucleares, mas que esgotará todas as opções antes de usar a força.

“No final deste ano, Estados Unidos e Israel realizarão o maior exercício militar conjunto jamais feito”, informou Blinken. “Apesar dos desafios fiscais, o presidente Obama solicitou US$ 3,1 bilhões (em ajuda para Israel) para 2013, a maior quantia até agora”, acrescentou. Por outro lado, Blinken afirmou que “as armas nucleares iranianas também representam uma ameaça para a segurança dos Estados Unidos”, mas se mostrou contra os “discursos bélicos”. O discurso bélico “é incrivelmente contraproducente. Impulsiona alta nos preços do petróleo, nos tira dinheiro e o coloca no bolso do Irã. Cremos que é possível ser inteligente e duro ao mesmo tempo.

Nem Blinken nem Jarret deram sinais de renovadas iniciativas para reiniciar as conversações de paz entre Israel e Palestina. Mas Danie Kurtzer, ex-embaixador dos Estados Unidos em Israel e no Egito, ofereceu algumas ideias sobre como avançar. “Por que não sugerimos os 'parâmetros de Obama', estabelecendo que devemos começar de onde paramos”, propôs. O ex-diplomata se referia aos chamados “Parâmetros de Clinton”, que o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) apresentou às duas partes em dezembro de 2000, após o fracasso da segunda cúpula de paz em Camp David.

Kurtzer sugeriu que Obama resumisse todos os avanços alcançados em negociações anteriores como ponto de partida para novas conversações. “No contexto das negociações, deveríamos pressionar as duas partes para fazerem o que prometeram no mapa do caminho de 2002”, opinou Kurtzer, se referindo ao “mapa do caminho para a paz” promovido pelo ex-presidente George W. Bush (2001- 2009).

“Congelar a construção dos assentamentos, permitir a mobilidade dos palestinos para que possam construir sua economia, acabar com a infraestrutura do terrorismo palestino e edificar a infraestrutura de um Estado palestino. Estes são pontos que as duas partes aceitaram, e no contexto das negociações deveríamos exigir seu pleno cumprimento”, ressaltou o ex-embaixador. Kurtzer também criticou a postura dos Estados Unidos com relação ao Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), que controla a Faixa de Gaza e é considerado um grupo terrorista por Washington. “De um lado, demandamos eleições, mas, quando os palestinos as realizam, nos afastamos porque não gostamos do resultado”, ressaltou.

Fonte: Envolverde/IPS

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