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quarta-feira, 7 de março de 2012

Não ao Hezbollah judaico

Diante do aparecimento de um corpo maligno no organismo, os médicos recomendam a sua extração. O paciente, assustado, recorrerá a algum curandeiro que prometa uma cura total. Alguns se sentirão melhor graças ao efeito placebo; no entanto, a fisiologia prontamente se encarregará de derrotar a psicologia. A medicina do xamã torna-se pior do que a enfermidade.

A sociedade israelense está enferma. A enfermidade é o fundamentalismo judaico. Serviço militar para os ultraortodoxos que se negam a alistar no Exército é a medicina oferecida pelo curandeiro. No entanto, não haveria serviço militar em grande escala, e em caso de, apesar de tudo, conseguir estabelecê-lo, seria corrupto e terrivelmente custoso devido aos políticos débeis.

Além disso, um serviço militar dessas características não aceleraria a incorporação da força de trabalho ociosa. Muito menos produziria a reconciliação entre laicos e ultraortodoxos. Pelo contrário, a amargura entre eles acabaria sendo incrementada.

O serviço militar não produzirá um estado de convivência harmônica entre nós, já que carece de um sentido de justiça. Um ano de trabalho durante o qual os ultraortodoxos se dedicam a servir oito horas por dia não é igual a um serviço militar que dura três anos ou mais.

A proposta do General Elazar Stern de estabelecer regimentos exclusivamente ultraortodoxos é ainda pior. Os resultados da sua implementação seriam cada vez mais agravantes à medida que for aumentando o número deles em tais unidades. O "Exército de Deus" se diferenciaria do exército em geral, submetendo-se à autoridade daqueles oficiais que aderem às diretrizes de seus rabinos.

Quais rabinos outorgariam seu apoio aos regimentos ultraortodoxos? Na melhor das hipóteses, os rabinos das grandes instituições de estudo da Torá e do Talmud; na pior, clérigos radicais. Os primeiros se ocupariam de assegurar o cumprimento estrito da lei judaica até o ponto de paralisar o "Exército de Deus". Os últimos o transformariam num Hezbollah judaico.

Um Estado moderno não deveria impor o cumprimento de um serviço que pode ser realizado por empregados assalariados. Não vivemos no feudalismo, onde se obrigava os vassalos a dedicar parte do seu tempo às necessidades dos seus senhores. A única exceção é a arte da guerra. Seriam poucos os que estariam dispostos a se inscrever se o Estado não fizesse uso de uma mistura de coerção e ensino de valores.

Os valores são transmitidos no lar ao longo de todo o sistema educativo. A coerção só é possível nos sistemas totalitários. Como a educação ultraortodoxa rejeita uma vida e trabalho e participação na defesa da pátria; como não é possível encarcerar dezenas de milhares de estudantes da Torá e do Talmud (e aqueles que pretendem fazê-lo); como o serviço militar será depreciado; como os regimentos exclusivamente ultraortodoxos constituem a receita perfeita para uma guerra civil, e como a comunidade ultraortodoxa se multiplica rapidamente como resultado do crescimento natural, por tudo isso, a maioria nacional não tem mais remédio além de uma decidida guerra cultural.

Tempo é ouro. Se a maioria perder essa guerra, a empresa sionista será lembrada como um episódio histórico de curta duração.

Não há outra alternativa além de permitir a insubmissão ao serviço militar por parte dos ultraortodoxos, mas devemos tentar reduzir o número de seus netos. Não é uma missão impossível; muito menos abusiva. É uma missão de salvação. O campo ultraortodoxo cresceu graças ao apoio da nossa sociedade diversificada. A sociedade se equivocou e agora deve corrigir essa distorção.

Para isso, devemos mudar o sistema de governo relativo. Esse sistema - além de muitos outros inconvenientes derivados dele - concede à minoria ultraortodoxa uma desproporcionada influência sobre a distribuição de recursos e sobre as relações do establishment religioso com o estado civil.

O tipo de sistema de governo que temos é raro em casos ilustres. Inclusive na Grã-Bretanha e os Estados Unidos, os pais fundadores da democracia parlamentar, renunciam as eleições estritamente representativas e outorgam para a maioria um poder que vai mais além da sua força eleitoral relativa.

Em termos políticos, só um governo centrista que não depende dos ultraortodoxos seria capaz de corroer seu imenso poder no sistema educativo e de repercutir sobre a tendência demográfica.

Os grandes partidos laicos devem reconhecer a urgência em cumprir tal objetivo. Necessita-se fazer algo, inclusive antes das próximas eleições.

Fonte: Yediot Aharonot - 6.3.12 / Via: Israel en Línea
Tradução: Jônatha Bittencourt

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